Lee Metoyer, de 72 anos, trabalhou durante três décadas como governanta na casa de uma família numerosa, os Krilich, em Illinois, nos EUA.
A sua vida antes de ali chegar foi sempre um mistério, com as crianças de quem tomava conta a serem aconselhados a não fazerem muitas perguntas.
Porém, quando ao aproximar-se a velhice, pediu a Sandra, uma das crianças de quem tomou conta, para que deixasse por escrito a sua verdadeira história.
Aquilo que lhe contou é hoje tema de uma obra literária e demorou mais de duas décadas a ser escrita, dado o choque que a mesma provocou na autora da obra.
Segundo partilha Sandra, ela e os quatro irmãos sempre se questionaram sobre o passado de Lee, porém nunca se atreveram a questionar. Tudo o que sabiam era que esta tinha perdido o marido e o filho num acidente, tempos antes de chegar à sua casa. Desde cedo, também repararam que tinha dentes postiços desde muito jovem, algo que sempre lhes suscitou interesse, mas que nunca questionaram.
No leito da morte, tudo veio ao de cima. E a história de Lee, que sempre foi uma mulher carinhosa e bem disposta para esta família, viria a provar-se inimaginável.
Um passado guardado a sete chaves
Segundo se descobriu e viria a retratar-se na obra 'O Segredo da Governanta', o verdadeiro nome de Lee era Leaner Mae Metoyer, a mais nova de cinco irmãos, que nasceram no Louisiana antes de se mudarem para Chicago.
Numa noite de dezembro de 1940, a mulher ia a passar num parque quando foi violentamente agredida e violada. Foi neste ataque que perdeu todos os dentes e os médicos acreditavam que a mulher apenas sobreviveu porque o seu corpo permaneceu durante várias horas na neve, estancando os sangramentos que sofrera.
Lee sobreviveu, mas seguiram-se anos de sofrimento e recuperação. O seus pais, ambos a lutar contra o cancro, não tinham possibilidade de tomar conta dela e internaram-na no Hospital Manteno State, onde viria a descobrir que da violação resultara uma gravidez. Nasceu o seu filho Pierre, quando tinha apenas 19 anos.
O irmão mais velho de Lee e a sua mulher acolheram Pierre, dado que Lee continuava internada.
No hospital foi sujeita a tratamentos de choque que a deixaram ainda mais debilitada. Lá, ia indo recebendo visitas, e foi numa dessas visitas que voltou a ser violada, desta vez por um familiar afastado. Voltou a ficar grávida, desta vez uma menina - Angel - que ficou a cargo de outro familiar.
Durante os 13 anos que se seguiram neste hospital, Lee teve mais dois filhos - Tony e Serenity - com um homem casado que ocupava um cargo sénior no hospital. Ela acreditava que este a amava, mas ele estaria a aproveitar-se da sua posição para abusar da mulher, conta Sandra ao Daily Mail.
Ambas as crianças foram enviadas para lares de acolhimento e o nome do homem nunca apareceu nas suas certidões de nascimento.
"Cada novo capitulo desta história era como um murro no estômago", afirma Sandra, referindo que houve ainda um quinto filho, de pai desconhecido, cujo destino não se sabe.
À procura de um sentido
Após 23 anos a digerir a história da mulher que cuidou de si, Sandra sabia que tinha que cumprir a sua promessa de escrever o livro, mas questionava-se sobre os motivos e a moral de uma história tão triste. "Era esta a história que ela queria que eu contasse? Era tão sombria, triste e cheia de perdas. Não conseguia achar um motivo para a partilhar com o mundo".
Esse pensamento mudou no dia em que Sandra ganhou coragem e entrou em contacto com Pierre, o primeiro filho de Lee, que todos achavam que tinha morrido.
Ambos falaram ao telefone e após uma conversa nervosa, o homem ganhou coragem para fazer a questão que há muitos anos pretendia: "Como foi a vida dela?".
Sandra percebeu aqui o significado da sua missão. A história de Lee teria de ser contada para que os seus filhos, nunca cuidados pela própria, soubessem quem era, o que passou e o porquê de não ter estado com eles.
Sandra viria a entregar as cinzas de Lee ao filho e hoje é autora da obra que Lee tanto lhe pediu. O livro foi lançado no mês de dezembro.
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