Sánchez falava em Madrid, na primeira de uma centena de iniciativas com que o Governo espanhol pretende, ao longo de 2025, celebrar os 50 anos da "Espanha em Liberdade", usando como pretexto a morte do general e ditador Francisco Franco, em novembro de 1975.
O primeiro-ministro disse que as celebrações deste ano têm o objetivo de "celebrar a grande transformação dos últimos 50 anos", em que Espanha passou de ser "um país isolado e faminto, incluindo de liberdade", a "uma das democracias mais plenas e prósperas", mas também "transmitir aos jovens a importância de viver em democracia", num momento em que propostas de extrema-direita e antidemocráticas avançam e conquistam eleitorado na Europa.
"O fascismo que quisemos deixar atrás é já a terceira força política na Europa", afirmou, referindo ainda "a internacional de ultra direita liderada pelo homem mais rico do mundo [Elon Musk]", que está "a atacar abertamente as instituições" europeias democráticas, "a incitar ao ódio" e a apelar ao apoio "aos herdeiros do nazismo" nas próximas eleições alemãs.
"A liberdade nunca se conquista de forma permanente", sublinhou Pedro Sánchez, que lembrou que foi isso precisamente que aconteceu há quase um século em vários países europeus, incluindo em Espanha, que eram democracias e passaram a ser ditaduras.
O primeiro-ministro defendeu ser por isso necessário "fortalecer a democracia" em Espanha e na Europa através do avanço em mais direitos, com o combate às 'fake news', que considerou "a principal arma dos inimigos da democracia", e "recordando a história".
"Esquecer os erros do passado é o primeiro passo para se repetirem", defendeu.
A escolha da morte de Franco, por parte do Governo socialista, para celebrar os 50 anos da recuperação da democracia em Espanha gerou críticas por parte de diversos setores, com os partidos de direita nacionais à cabeça, e voltou a tornar pública a divisão que existe no país em relação à memória história do século XX, nomeadamente, a guerra civil (1936-1939), a ditadura franquista que se seguiu e a designada transição para a democracia.
"Todos os países próximos comemoraram o aniversário das suas democracias e usando o mesmo marco, o início do fim das suas ditaduras, o início do processo democratizador", disse hoje o socialista Pedro Sánchez, repetindo o argumento que o Governo tem usado nas últimas semanas, com referências a casos como o de Portugal, em que se celebra a revolução do 25 de abril de 1974, mesmo que a democracia em Portugal não tenha ficado assegurada nesse dia.
As celebrações da "Espanha em Liberdade" arrancaram hoje, com uma cerimónia no Museu Nacional de Arte Contemporânea Rainha Sofia, em Madrid, onde está em exibição permanente o quadro "Guernika", de Pablo Picasso, uma obra que o pintor produziu no exílio e só foi transferida de Nova Iorque para Madrid em 1981.
Sánchez considerou hoje Guernika "o último exilado espanhol", cuja chegada e instalação em Espanha simbolizou a certificação de que o país tinha conquistado a liberdade e a democracia.
"Conseguimos levantar uma das democracias mais plenas e prósperas do planeta. A democracia que somos hoje. Celebremo-la e construamos com ela mais 50 anos de progresso e liberdade", afirmou.
O Partido Popular (PP, direita, a maior força política no parlamento) demarcou-se destas celebrações e acusou Sánchez de "desenterrar Franco" num momento de "desespero e decadência" da governação e de "agir como nostálgico do confronto entre espanhóis".
O PP questiona que o pretexto para celebrar a democracia seja a morte do ditador, dando-lhe protagonismo, e não as primeiras eleições, em 1977, ou a aprovação da Constituição de 1978, que instituiu o regime atual e é já assinalada em Espanha com um feriado nacional.
Leia Também: 'Bomba' à vista em Inglaterra. Elon Musk quer comprar o Liverpool