Perante o Comité de Serviços Armados do Senado, os senadores escrutinaram declarações, ações, currículo e historial de Hegseth, com vários democratas a considerarem que Hegseth não está apto a assumir a liderança do Pentágono, citando alegações de má conduta, má gestão financeira e opiniões sobre diversidade, caso do senador Jack Reed.
"Não acredito que você tenha qualificações para atender às exigências esmagadoras deste trabalho. Devemos reconhecer as informações públicas preocupantes contra si", afirmou o principal democrata do Comité de Serviços Armados do Senado.
"Uma variedade de fontes (...) implicaram-no em situações de desrespeito pelas leis de guerra, má administração financeira, comentários racistas e sexistas sobre homens e mulheres militares, abuso de álcool, agressão sexual, assédio sexual e outras questões preocupantes", assinalou o senador de Rhode Island.
Reed criticou firmemente Hegseth pelos comentários que fez no passado desconsiderando a importância da diversidade nas Forças Armadas.
"As nossas Forças Armadas estão mais diversas do que nunca, mas, mais importante, estão mais letais do que nunca. Isso não é uma coincidência", argumentou Reed.
"Votei a favor de todos os seus antecessores, incluindo os da primeira administração Trump. Infelizmente, você não tem caráter e postura para ocupar o cargo de secretário de Defesa", frisou ainda Reed, umas das vozes mais duras contra Pete Hegseth durante a audiência.
Veterano do Iraque e do Afeganistão, Hegseth, de 44 anos, é conhecido por defender políticas radicais como a militarização da fronteira com o México e restrições a mulheres e pessoas transexuais no exército norte-americano.
O ex-apresentador da Fox News e militar veterano compareceu hoje perante o Comité após semanas de reuniões durante as quais alguns senadores questionaram a sua aptidão para a função enquanto enfrenta alegações de consumo excessivo de álcool, abuso sexual ou má gestão financeira de um grupo sem fins lucrativos.
Em 2017, foi denunciado por uma mulher que alegou ter sido abusada sexualmente. O caso não foi a julgamento porque, segundo disseram os seus advogados ao The Washington Post, Hegseth pagou pelo silêncio da denunciante para proteger o seu emprego.
Sobre as alegações de abuso sexual, Hegseth culpou hoje a imprensa por fazer circular alegações de fontes anónimas que diz serem falsas e alegou ter sido vítima de uma "campanha de difamação".
Hegseth recusou-se ainda a responder a perguntas diretas sobre se agressão sexual ou violência doméstica seriam fatores desqualificantes para o cargo de chefe de Defesa, mas repetiu que foi injustamente acusado de agressão sexual.
Confrontado com várias das suas frases polémicas, o veterano alegou ter sido mal interpretado em algumas delas ou tentou suavizar as suas visões previamente declaradas sobre tópicos controversos.
Perante os senadores, o escolhido de Trump prometeu que, caso seja aprovado, "cada alto responsável será avaliado com base na meritocracia, padrões, letalidade e comprometimento com ordens legais que receberão".
Contrariamente às críticas dos democratas, os republicanos do Comité elogiaram o perfil de Hegseth.
O presidente do Comité de Serviços Armados do Senado, Roger Wicker, considerou a nomeação de Hegseth para liderar o Departamento de Defesa de "não convencional", mas comparou-o a Trump e disse que esse fator pode ser o que o torna uma "excelente escolha".
"Não sou uma pessoa perfeita, mas a redenção é real", assegurou Hegseth.
Uma das últimas perguntas da sessão veio da parte da senadora democrata Elissa Slotkin, que perguntou repetidamente sobre se Hegseth enfrentaria Donald Trump caso o Presidente eleito lhe desse alguma ordem ilegal. Contudo, o veterano evitou responder diretamente.
Ao longo da audiência, várias pessoas foram escoltadas para fora da sala após atacarem verbalmente o ex-apresentador, chamando-o "misógino" ou "cristão sionista".
Confrontado com as críticas de ser um "cristão sionista", o ex-apresentador respondeu: "Sou cristão e apoio firmemente o estado de Israel e a sua defesa existencial (...). Eu apoio que Israel destrua e mate até o último membro do Hamas".
Hegseth ainda pode ser confirmado, apesar dos ataques dos democratas, desde que os republicanos permaneçam unidos no momento da votação. A audiência de hoje indicou que provavelmente obterá os votos de que precisa.
No Senado, os republicanos - partido ao qual Donald Trump pertence - têm 53 dos 100 assentos, o que significa que até três deserções permitiriam aprovar os indicados.
As audiências começam a pouco menos de uma semana de Trump tomar posse pela segunda vez como Presidente.
Após as audiências, as comissões enviam ao plenário um relatório recomendando ou não o candidato, embora também possam não emitir qualquer relatório, o que anula a candidatura.
[Notícia atualizada às 19h38]
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