Um ferido após polícia lançar gás a manifestantes na ponte de Maputo

Uma mulher sofreu ferimentos ao ser atingida, dentro da viatura, por uma granada de gás lacrimogéneo lançada pela polícia nas portagens de Katembe para tentar desmobilizar dezenas de pessoas que contestavam o regresso da cobrança naquela entrada de Maputo.

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Lusa
27/01/2025 10:18 ‧ há 2 dias por Lusa

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Maputo

Os acessos a Maputo pela ponte de Katembe foram bloqueados esta manhã por automobilistas, que contestam a concessionária Revimo por voltar a cobrar portagens, o que não aconteceu nas últimas semanas devido às manifestações pós-eleitorais.

 

Após momentos de tensão, dezenas de pessoas aproximaram-se das portagens e das instalações da Revimo, à saída da ponte, exigindo o fim da cobrança, tendo sido repelidas pela polícia, cerca das 10h40 (menos duas horas em Lisboa) com tiros e granadas de gás lacrimogéneo, precipitando a fuga, por alguns momentos.

Uma dessas granadas acabou por partir o vidro da viatura, uma das dezenas que estava parada na fila à saída da portagem, sem poder avançar devido ao bloqueio à frente, e acabou por deflagrar no interior.

"Eu estava dentro do carro, e o carro pegou fogo, queimou-me o banco e tudo. Estava sozinha, estava a ir para o trabalho, o meu carro é praticamente o último aqui na fila", descreveu a condutora, que sofreu escoriações e queimaduras.

A ação policial levou à revolta dos automobilistas e outras pessoas no local, pedindo satisfações à polícia, seguindo-se novos momentos de tensão e tentativas de negociação por parte das autoridades no local, que levou à libertação de um manifestante, cobrador de uma viatura de transporte informal, detido pouco antes neste protesto.

Desde o início da manhã que os automobilistas que acediam à praça de portagens da ponte, em Katembe, única entrada na capital a partir do sul do país, buzinavam e recusavam-se a pagar portagem, apesar do forte contingente policial.

A recusa no pagamento provocava enormes filas o que levava os responsáveis da Revimo a abrir por momentos, em várias alturas, para escoar o trânsito, sem que os automobilistas pagassem, pelo que a passagem era feita em clima de festa.

Já cerca das 09h30, automobilistas imobilizaram viaturas algumas dezenas de metros antes da praça de portagem, bloqueando por completo o trânsito no acesso a Maputo, levando dezenas de pessoas a deixar as viaturas e fazerem o percurso até à cidade, pela ponte, a pé, apesar da proibição da circulação pedonal, o mesmo acontecendo com as viaturas, que regressavam em contramão numa via rápida de duas faixas.

A Rede Viária de Moçambique (Revimo), responsável pela construção, conservação e exploração de várias estradas nacionais, retoma hoje a cobrança de taxas nas portagens no país, suspensas devido aos protestos pós-eleitorais.

"Informamos que, a partir de segunda-feira, 27/01/2025, será retomada a cobrança de taxas nas portagens [...] sob nossa gestão", lê-se num comunicado divulgado pela Revimo.

Também a sul-africana Trans African Concessions (TRAC), concessionária da estrada N4, que liga Maputo à fronteira de Ressano Garcia, retomou, na quinta-feira, a cobrança de portagens, causando revolta popular, com os manifestantes a bloquearem a via e a polícia a efetuar vários disparos para reabrir os acessos à portagem de Maputo.

O então candidato presidencial Venâncio Mondlane apelou em dezembro ao não pagamento de portagens no país, sendo que, após a destruição e vandalização de algumas cabines de cobrança, várias foram fechadas, sem receber pagamentos.

Entretanto, num documento publicado na terça-feira, com 30 medidas que exige para os próximos 100 dias, Venâncio Mondlane, que não reconhece os resultados oficiais das eleições gerais de 09 de outubro que deram a vitória a Daniel Chapo, já empossado como quinto presidente de Moçambique, voltou a apontar a não cobrança de portagens em todo o país como exigência.

"Na N4 as portagens, pelo tempo de vida que já têm, cumpriram com tempo de rentabilidade face ao investimento efetuado", refere no documento, exigindo a extensão do não pagamento de portagens neste período, alegando, também, que em várias vias com portagens no país "não houve consulta pública" sobre essa cobrança e "não se respeitou o princípio da via alternativa".

Já a Revimo refere que as taxas cobradas através das portagens garantem a manutenção das infraestruturas rodoviárias, afirmando que vai continuar a implementar medidas para a mitigação dos custos, "incluindo descontos" para o transporte coletivo de passageiros e de utilizadores frequentes.

Moçambique vive desde 21 de outubro um clima de forte agitação social, protestos, manifestações e paralisações, convocadas pelo ex-candidato presidencial Venâncio Mondlane, com confrontos violentos entre a polícia e os manifestantes, além de saques e destruição de equipamentos públicos e privados.

De acordo com a plataforma eleitoral Decide, organização não-governamental que monitoriza os processos eleitorais em Moçambique, nestes protestos há registo de pelo menos 315 mortos, incluindo cerca de duas dezenas de menores, e pelo menos 750 pessoas baleadas.

Leia Também: Acesso a Maputo pela ponte de Katembe bloqueado contra portagens

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