O evento acontece poucos dias depois do quinto aniversário da saída formal do Reino Unido da União Europeia (UE), em dia 31 de janeiro de 2020, que se tornou efetiva no final de um período de transição, em 31 de dezembro de 2020.
A visita a Bruxelas, a segunda desde que foi eleito em julho, reflete uma mudança na política interna britânica, onde nos anos de Boris Johnson, estar em confronto com a UE era popular, sobretudo entre eurocéticos.
Anos de negociações amargas e turbulência parlamentar geraram relações tensas que só recentemente melhoraram, ainda no tempo de Rishi Sunak, mais pragmático do que o seu antecessor.
Assumido pró-europeu, Starmer propõe um "reinício" das relações, mas com as condições que assumiu na campanha eleitoral, recusando reentrar no mercado único e união aduaneira europeus e reabrir as fronteiras à liberdade de circulação de pessoas.
Starmer vai participar no jantar com os líderes europeus por sugestão do presidente do Conselho Europeu, António Costa, pois o tema da defesa europeia e o reforço das capacidades é uma área na qual o bloco quer cooperar com o Reino Unido.
Ao Governo britânico interessa agilizar as exportações de produtos agrícolas, procurando um entendimento sobre normas sanitárias e fitossanitárias, vistos especiais para artistas britânicos trabalharem na UE e o reconhecimento mútuo de qualificações profissionais.
No entanto, hesita perante as propostas europeias de negociar maior acesso dos barcos europeus às águas de pesca britânicas e maior mobilidade para jovens europeus no Reino Unido, que receia ser vista como uma forma de imigração.
"Tem havido uma postura muito defensiva por parte dos trabalhistas", afirmou o politólogo Simon Usherwood, acrescentando à lista a sugestão por parte do vice-presidente da Comissão Europeia, Maros Sefcovic, de adesão à Convenção Pan-Europeia do Mediterrâneo (PEM).
Sefcovic disse à BBC que a UE estava pronta a "considerar" a inclusão do Reino Unido neste acordo, que facilita o comércio em toda a Europa, bem como em alguns países do Norte de África.
O Reino Unido "não tem planos para aderir" a este acordo, o secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros, Nick Thomas-Symonds, responsável pelas relações com a UE.
A ministra das Finanças, Rachel Reeves, disse que iria estudar a proposta, admitida até por eurocéticos ferozes, como o antigo negociador do Brexit David Frost e o antigo eurodeputado Daniel Hannan.
Ao distanciar-se de qualquer entidade ou estrutura europeia, o Governo espera contrariar as acusações imediatas de "traição" e de "revogar o 'Brexit' à socapa" dos Conservadores e da imprensa tablóide.
O Governo "dizer automaticamente 'não' ou 'não temos planos nesta fase' é talvez compreensível, mas a certa altura torna-se frustrante para os parceiros europeus", avisa o professor de Ciência Política e Estudos Internacionais da Universidade Aberta britânica, Simon Usherwood.
"Por isso, penso que o mais provável é assistirmos a uma otimização dentro dos parâmetros gerais da atual relação", ou seja, sem mudanças significativas, explicou.
A relutância de Starmer em ser mais ousado e diligente na reaproximação à EU é motivo de frustração de ativistas pró-europeus na oposição e até dentro do Partido Trabalhista.
Mas para o diretor do centro de estudos UK in a Changing Europe, Anand Menon, o Governo está determinado a que não se fale do 'Brexit, tema que esteve quase ausente da campanha eleitoral para as legislativas de 2024.
O Governo extinguiu a comissão parlamentar de escrutínio europeu, criada em 2020 para debater as relações britânicas com a UE, e recentemente submeteu legislação que viabiliza a adoção de legislação e normas europeias sem precisar de passar pelo parlamento.
Menon reconhece que que reentrar no mercado único e união aduaneira sem ser membro da UE tem inconvenientes e demoraria a produzir benefícios.
"Tudo o que o Governo fez até agora leva-me a pensar que vai aproximar-se da União Europeia, mas com cuidado para não debater e reabrir as querelas políticas. E, embora as pessoas possam pensar que isso é frustrante, penso que politicamente, isso é provavelmente bastante sensato", resumiu.
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