Extrema-direita e migrações dominam primeiro debate entre Scholz e Merz

A aproximação dos conservadores alemães à extrema-direita e a política migratória dominaram hoje o debate entre o chanceler, Olaf Scholz, e o líder da CDU e favorito nas sondagens, Friedrich Merz, a duas semanas das legislativas.

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© Karl-Josef Hildenbrand/picture alliance via Getty Images

Lusa
09/02/2025 22:46 ‧ ontem por Lusa

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Alemanha

O debate de hoje à noite foi o único frente-a-frente entre o chanceler e candidato do Partido Social Democrata (SPD) - em terceiro nas intenções de voto - e o líder da União Democrata-Cristã (CDU), transmitido pelas televisões públicas ZDF e ARD, na reta final para as eleições legislativas antecipadas na Alemanha.

 

O social-democrata Olaf Scholz acusou o seu rival de ter "traído a sua palavra" ao apresentar recentemente no parlamento iniciativas não vinculativas destinadas a endurecer a política de migração e apoiadas pelo partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD), em segundo lugar nas sondagens.

O líder do SPD afirmou que a manobra de Merz tinha "quebrado um tabu" na política alemã, ao romper o chamado 'cordão sanitário' contra a extrema-direita, e disse ter "perdido a confiança" nos compromissos do seu adversário.

Por sua vez, Friedrich Merz reafirmou no domingo que a CDU nunca formará uma aliança com a AfD.

O líder conservador, que tinha dito em novembro passado que não contaria com os votos da extrema-direita para fazer aprovar moções parlamentares ou projetos de lei, não conseguiu justificar por que razão fez o contrário no mês passado, mas defendeu-se: "Subimos nas sondagens. Não pode ter sido assim tão errado".

A política migratória evidencia a divisão entre os dois candidatos, que optaram por um tom particularmente ofensivo.

"Como é que alguém pode ser tão estúpido?", indignou-se o chanceler, sobre algumas das propostas do seu adversário em matéria de asilo, acusando-o de arriscar "uma crise europeia" ao defender o encerramento das fronteiras alemãs aos requerentes de asilo.

Olaf Scholz garantiu que, sob a coligação que lidera desde o final de 2021, "nunca houve leis mais duras" em matéria de imigração e considera que as propostas da CDU violam as leis europeias e a Constituição alemã.

"Vocês não vivem neste mundo, o que estão a dizer aqui é um conto de fadas que não tem quase nada a ver com o que se passa na realidade das cidades alemãs", retorquiu o seu rival conservador.

O chanceler afirmou que, graças ao seu governo, 40.000 migrantes irregulares foram repelidos nas fronteiras, enquanto em 2024 terão chegado à Alemanha um terço menos.

Merz respondeu com outros números: dois milhões de imigrantes irregulares chegaram à Alemanha durante o mandato de Scholz, 240.000 dos quais no ano passado - "é demasiado", concluiu.

A recessão da maior economia da Europa, a entrar no terceiro ano, mereceu a atenção dos dois candidatos, com Merz a denunciar a "desindustrialização" da Alemanha, o que Scholz negou.

O candidato conservador disse que o país está a sofrer uma fuga de capitais, assiste a um número recorde de insolvências, perdeu "300 mil postos de trabalho na indústria" e tem três milhões de desempregados, com uma tendência ascendente.

O chanceler contrapôs que a Alemanha tem "a segunda maior industrialização entre todas as nações economicamente fortes, ou seja, do G7", conseguiu baixar a inflação e que o número de empregados -- 46 milhões -- está a aumentar, além de terem sido investidos mais de 100 mil milhões de euros em novas produções.

Na política externa, os adversários mostraram-se mais de acordo, coincidindo nas críticas ao plano do Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de controlar a Faixa de Gaza e forçar a saída de quase dois milhões de palestinianos, o que a ONU denunciou como uma possível limpeza étnica.

"É um escândalo", disse o político social-democrata, acrescentando: "Agora que o cessar-fogo acabou de começar, podemos ver a destruição inacreditável que foi causada no local. E eu digo, juntamente com o governo egípcio, com o governo jordano e com as pessoas que têm direito à dignidade humana, que a reinstalação das populações é inaceitável e viola o direito internacional".

Merz, por sua vez, partilhou esta posição e sublinhou que a ideia de Trump faz parte de uma série de propostas da administração norte-americana que são "irritantes", considerando que "provavelmente também haverá muita retórica envolvida".

Outro ponto em comum é a rejeição da adesão da Ucrânia à NATO, embora ambos tenham prometido continuar a apoiar o país invadido pela Rússia há quase três anos.

Sobre despesas com a Defesa, Scholz prometeu "pelo menos 2% [do PIB] nos próximos dois anos" -- a atual meta da NATO -, enquanto Merz afirmou que, "a longo prazo", é necessário estar "claramente acima dos 2%", embora se tenha recusado a dar um valor exato.

Scholz e Merz voltam a enfrentar-se num novo debate em 16 de fevereiro, mas num formato alargado, com a candidata da AfD, Alice Weidel, e o atual vice-chanceler e candidato dos Verdes, Robert Habeck.

A Alemanha realiza em 23 de fevereiro eleições legislativas antecipadas - estavam previstas para 28 de setembro -, na sequência da queda da coligação governamental liderada por Olaf Scholz e composta por SPD, liberais do FDP e Verdes.

Leia Também: "Escândalo". Scholz critica proposta de Trump de transferir palestinianos

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