"O que é claro é que as pessoas não podem ser retiradas à força [de Gaza] e qualquer apropriação de terras seria ilegal, esta é a nossa posição. Todos os países e atores regionais também rejeitaram a ideia do Presidente Trump", declarou a Alta Representante da UE para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança, Kaja Kallas, em entrevista à Lusa e outras agências europeias em Bruxelas no âmbito do projeto Redação Europeia (European Newsroom).
"Sobre Gaza, a UE está a apoiar a solução de dois Estados. Claro que os israelitas estão preocupados com a sua segurança, mas sem os palestinianos terem os seus direitos respeitados também não haveria segurança para Israel e Gaza também fará parte do futuro Estado Palestiniano", acrescentou a responsável.
O Presidente norte-americano, Donald Trump, tem insistido em que os Estados Unidos tomem conta e reconstruam Gaza "como um projeto imobiliário", defendendo a expulsão dos habitantes do enclave palestiniano para o Egito e para a Jordânia, o que já provocou a rejeição e o descontentamento dos países árabes.
Donald Trump afirmou estar "comprometido em comprar e deter" a Faixa de Gaza, território na costa oriental do Mar Mediterrâneo marcado pela guerra entre o Hamas e Israel, sobretudo desde outubro de 2023, e habitado por cerca de dois milhões de pessoas.
Para os Estados da região, a solução apresentada por Trump significaria o fim da causa palestiniana e poderia perturbar a segurança e a paz no Médio Oriente, numa altura em que está em vigor um cessar-fogo entre o Hamas e Israel.
"O cessar-fogo foi uma coisa e agora temos de construir uma paz mais sustentável", disse Kaja Kallas na entrevista às agências da Redação Europeia, incluindo a Lusa.
De acordo com a chefe da diplomacia da UE, "a grande questão que se coloca é a governação da Faixa de Gaza porque é preciso saber como prestar serviços ao povo palestiniano quando a UNRWA [Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados Palestinianos] está bloqueada por Israel".
"É uma questão de os serviços chegarem realmente às pessoas e penso que também é do interesse dos atores regionais que a Europa esteja à mesa para discutir a governação de Gaza [pois] esse é um dos elementos-chave para uma paz sustentável", adiantou Kaja Kallas.
Hoje mesmo, o Egito (que foi um dos mediadores do cessar-fogo, a par do Qatar e dos Estados Unidos) anunciou que tem um plano sobre o futuro de Gaza que garante a reconstrução do enclave sem a deslocação da população contrariando a exigência do Presidente norte-americano de expulsar os habitantes do pequeno território para outros países.
A limpeza étnica, entendida como a expulsão forçada de um grupo étnico de um território, constitui um crime contra a humanidade e pode ser considerada um crime de genocídio, de acordo com as Nações Unidas.
A Liga Árabe, composta por 22 Estados, rejeitou categoricamente o plano de Donald Trump, insistindo na necessidade de implementar a solução de dois Estados, que estipula a criação em Gaza e na Cisjordânia ocupada de um Estado palestiniano ao lado do Estado israelita.
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