A deslocação às cidades "ocupadas" de Dakhla e El Aiun representa "um ato hostil e provocador que só pode ser interpretado como uma tentativa flagrante de legitimar a ocupação", afirmou o movimento sarauí sobre aquela que é a primeira visita de um membro do governo francês a este território.
Dati torna-se assim a primeira ministra francesa, após o embaixador de França, a realizar uma visita deste tipo, depois da mudança de posição de Paris em julho de 2024, quando passou a defender o plano de autonomia marroquino como a "única solução" para o litígio na antiga colónia espanhola.
Esta alteração da posição francesa desencadeou uma crise diplomática entre França e Argélia, principal aliada do Frente Polisário e onde se encontram os campos de refugiados sarauís.
"Esta visita suspeita, que incluiu a inauguração de infraestruturas culturais nas cidades ocupadas de El Aiun e Dahkla, revela o verdadeiro rosto da posição francesa, cúmplice das políticas de colonialismo e expansão marroquina, num flagrante desafio ao direito internacional", criticou o Frente Polisário.
A visita da ministra francesa a Marrocos ocorre quatro meses após a reaproximação entre Paris e Rabat, consolidada pela deslocação do presidente francês, Emmanuel Macron, ao país magrebino, em outubro passado.
Na ocasião, Macron expressou o seu total apoio a Marrocos no conflito do Saara Ocidental, ao declarar perante as duas câmaras do parlamento marroquino que "o presente e o futuro do Saara Ocidental enquadram-se no âmbito da soberania marroquina".
Trata-se de "um completo desrespeito pelos direitos internacionalmente reconhecidos do povo sarauí, em particular o seu direito à autodeterminação e à independência", afirmou Musa Salma, responsável pela área da Cultura na República Árabe Sarauí Democrática, proclamada pela Frente Polisário.
"O povo sarauí, que fez enormes sacrifícios pela sua liberdade e independência, não aceitará, sob nenhuma circunstância, que a ocupação lhe seja imposta pela força ou através de manobras políticas e culturais. Os esforços da ocupação marroquina e dos seus aliados para deturpar os factos fracassarão, tal como fracassaram todos os seus planos coloniais anteriores", concluiu.
A questão da antiga colónia espanhola opõe há décadas Marrocos -- que controla 80% do território e propõe um plano de autonomia sob a sua soberania -- aos nacionalistas sarauís da Frente Polisário, apoiados pela Argélia, que defendem a realização de um referendo de autodeterminação.
Na ausência de um acordo final, o Saara Ocidental, colónia espanhola em África até 1975, é considerado um "território não autónomo" pela ONU.
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