Kabarebe, citado num comunicado divulgado após uma reunião na quinta-feira com o enviado especial da União Europeia (UE) para a região dos Grandes Lagos, Johan Borgstam, considerou que "qualquer tentativa de estabelecer tais comparações é politicamente motivada e serve apenas para desviar a atenção das verdadeiras questões em causa".
Na reunião, realizada em Kigali, James Kabarebe disse que o Ruanda considera "lamentável que a política interna da UE e os interesses instalados na região influenciem as suas decisões de política externa acima dos factos".
"Os Estados-membros da UE estão plenamente conscientes do contexto histórico de insegurança recorrente na RDCongo", afirmou Kabarebe, que enumerou os problemas internos do governo democrático-congolês, a presença de "mais de 200 grupos armados" no país, "a perseguição sistemática das comunidades tutsis democrático-congolesas" e a presença do grupo rebelde Forças Democráticas para a Libertação do Ruanda (FDLR).
Por esta razão, o ministro ruandês reiterou ao representante da UE que as medidas punitivas, como as sanções contra o país adotadas pelo Reino Unido ou a suspensão das consultas em matéria de defesa com o governo de Kigali pela UE, "violam os direitos dos países afetados e não resolvem a situação".
Kabarebe frisou ainda que o seu país também "enfrenta uma ameaça existencial" devido à presença "da coligação militar internacional da RDCongo" na fronteira entre os dois países.
O chefe da diplomacia ruandesa referia-se à "coligação" que, segundo ele, integra "milícias genocidas das FDLR, forças do Burundi, milícias étnicas Wazalendo (aliadas do exército democrático-congolês), SAMIDRC (a missão de manutenção da paz da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral) e mercenários europeus".
"Os princípios da soberania e da integridade territorial, frequentemente citados pela UE, deveriam aplicar-se igualmente ao Ruanda. A soberania do Ruanda foi violada mais de 20 vezes desde 2018, com relatórios bem documentados", defendeu.
Assim, o chefe da diplomacia ruandesa garantiu que o seu governo vai continuar a insistir na "obtenção de garantias de segurança", que incluem a retirada das forças estrangeiras junto à fronteira, a resolução "da questão" do grupo rebelde Movimento 23 de março (M23) e a neutralização das FDLR.
O Ruanda enfrenta pressões internacionais devido a alegações de que está a apoiar o M23, um grupo rebelde que, desde o início do ano, conquistou importantes áreas do leste da RDCongo, incluindo as cidades de Goma e Bukavu, capitais das províncias Kivu Norte e Kivu Sul, respetivamente.
As duas províncias fazem fronteira com o Ruanda e são ricas em minerais como o ouro e o coltan, essenciais para a indústria tecnológica e para o fabrico de telemóveis.
De acordo com os dados do Ministério da Saúde da RDCongo, o número de mortos no conflito em Goma e arredores ultrapassou os 8.500 desde janeiro.
A atividade armada do M23 - um grupo constituído principalmente por tutsis vítimas do genocídio de 1994 no Ruanda - recomeçou em novembro de 2021 com ataques relâmpagos contra o exército democrático-congolês no Kivu Norte.
Desde então, o grupo avançou em várias frentes, fazendo temer uma possível guerra regional.
Desde 1998, o leste da RDCongo está mergulhado num conflito alimentado por milícias rebeldes e pelo exército, apesar da presença da missão de manutenção da paz da ONU (Monusco).
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