Há 60 anos, Choi mordeu homem que a tentou violar. Hoje, continua a lutar

Choi Mal-ja tem 78 anos e decidiu lutar por um novo julgamento, décadas depois de ter sido condenada a mais tempo de prisão do que o agressor, na Coreia do Sul. Ao longo do processo, a vítima foi questionada sobre se queria casar com o agressor para que o processo terminasse. Tudo se passou nos anos 60 - e volta agora à barra dos tribunais.

Notícia

© Seung-il Ryu/NurPhoto via Getty Images

Notícias ao Minuto
14/04/2025 15:03 ‧ ontem por Notícias ao Minuto

Mundo

Agressão sexual

Choi Mal-ja tinha 18 anos quando um homem com quem se cruzou numa rua de Busan, na Coreia do Sul, lhe pediu indicações sobre o caminho a seguir. A jovem ajudou no que sabia, tendo caminhando alguns metros ao lado dele, por forma a explicar-lhe como seguir na direção que este pedia. Quando virou costas, não demorou muito até que o homem a derrubasse e a tentasse violar.

 

Quase paralisada pelo medo, e a "sentir-se tonta quase como se tivesse sido atacada com um martelo", Choi conseguiu reagir quando o homem a tentava beijar, mordendo-o e arrancando-lhe 1,5 cm da língua.

Choi conseguiu fugir, mas não durante muito tempo, já que duas semanas depois o alegado agressor e um grupo de amigos invadiram a sua casa - onde vivia com os pais - e ameaçaram mesmo matar o pai da jovem.

Seis décadas depois, aos 78 anos, Choi continua a lutar por justiça, dado que em 1965, ano seguinte à agressão, foi condenada a dez meses de prisão e dois anos de liberdade condicional. O agressor, por outro lado, foi condenado a seis anos de prisão e um ano de liberdade condicional, por ameaças.

"Não foi preciso muito tempo para que a vítima de um crime sexual se transformasse num criminoso, nem foi preciso a força de muitas pessoas", escreveu Choi numa carta enviada ao Supremo Tribunal no ano passado, como parte do seu pedido de novo julgamento.

O caso desta mulher é até citado na num livro sul-coreano sobre o processo penal que é usado para ensinar estudantes de advocacia já há várias gerações. O caso é usado para falar sobre o uso na força quando se trata de defesa.

Segundo os documentos citados pela CNN Internacional, a queixa de tentativa de violação foi descartada. Choi tentou pedir um novo julgamento na cidade de Busan, mas todos os tribunais recusaram o pedido - o que fez com que a situação fosse levada até ao Supremo Tribunal, que lhe deu razão e reencaminhou o caso para a cidade, e onde o caso será reaberto e novamente julgamento. Especialistas citados pela CNN Internacional sublinham que o veredicto poderia reescrever o precedente legal estabelecido pelo seu julgamento original, com consequências de grande alcance para outras mulheres.

"O tribunal tem de admitir o facto de a sua decisão injusta ter virado a vida de uma pessoa de pernas para o ar e assumir a responsabilidade com um julgamento justo", apontou ainda Choi.

A imprensa nota ainda que até tempos recentes a norma social era a de que as mulheres servissem de apoio aos homens, como aconteceu não só durante a Guerra das Coreias (1950-53), quando as meninas eram enviadas para fábricas para sustentarem monetariamente a educação dos irmãos, ou, mais recentemente, quando até aos anos 80 lutar pelos direitos das mulheres eram considerado "um luxo."

No seu pedido para o caso ser revisto, Choi afirma ainda que os seus direitos foram também violados na medida em que foi obrigada a fazer um teste para que as autoridades soubessem se ela tinha ou não perdido a virgindade.

À CNN a diretora de uma linha de apoio às mulheres, Kim Su-jeong, explicou que na altura não havia sequer uma palavra para violência doméstica. "Estamos na década de 1980. Imaginem o que Choi Mal-ja teve de passar pelo seu caso, na década de 1960", disse Kim.

A imprensa aponta ainda que procuradores e juízes na altura  a questionaram sobre se queria casar com o agressor, cuja identidade não foi revelada, para encerrar o caso.

Segundo a responsável pelo centro de apoio ouvida pela CNN Internacional, é ainda preciso fazer muita pelo combate à violência de género no país. "A perceção de que a culpa é do agressor sexual e não da vítima, de que as mulheres são mais vulneráveis aos crimes sexuais e de que é da responsabilidade do governo punir o agressor e proteger a vítima está atualmente muito difundida entre as pessoas", afirmou, explicando então que o resultado seriam muito importante para a atualidade.

Segundo os dados revelados pelas autoridades, em 2023 foram registados mais de 22 mil violações e agressões "indecentes" na Coreia do Sul.

Leia Também: Coreia do Sul quer meninas a entrar na escola mais cedo. Razão? Filhos

Partilhe a notícia

Escolha do ocnsumidor 2025

Descarregue a nossa App gratuita

Nono ano consecutivo Escolha do Consumidor para Imprensa Online e eleito o produto do ano 2024.

* Estudo da e Netsonda, nov. e dez. 2023 produtodoano- pt.com
App androidApp iOS

Recomendados para si

Leia também

Últimas notícias


Newsletter

Receba os principais destaques todos os dias no seu email.

Mais lidas