Numa reunião com o embaixador russo na capital afegã, o ministro dos Negócios Estrangeiros do regime talibã afegão, Amir Khan Muttaqi, agradeceu à Rússia por uma medida que, frisou, "é um desenvolvimento importante nas relações" entre Cabul e Moscovo.
"Com esta decisão, o único obstáculo restante para uma maior cooperação política e económica foi removido", disse o ministro, durante uma reunião com o embaixador russo, Dmitri Zhirnov, considerando tratar-se de uma "decisão histórica", segundo um comunicado citado pelas agências internacionais.
Hoje, o Supremo Tribunal de Justiça (STJ) da Rússia retirou o movimento talibã, que domina o Afeganistão, da sua lista de organizações terroristas, abrindo caminho para o reconhecimento pelo Kremlin (presidência) das novas autoridades afegãs.
A decisão entra imediatamente em vigor, indicou a alta instância, após o Gabinete do Procurador-Geral da Rússia ter pedido que os talibãs deixassem de ser classificados como um grupo terrorista, estatuto que mantinham desde 2003.
A decisão representa uma vitória diplomática para os talibãs, porque esse estatuto tornava qualquer contacto com o grupo punível ao abrigo da legislação russa.
Apesar da designação, delegações talibãs participaram em diversos fóruns organizados pela Rússia, numa altura em que Moscovo tem procurado afirmar-se como mediador regional.
Os talibãs regressaram ao poder no Afeganistão em agosto de 2021, após o colapso do governo apoiado pelos Estados Unidos e a subsequente retirada total das tropas internacionais, sobretudo norte-americanas, do país.
Desde então, Moscovo tem procurado normalizar as relações com o novo regime afegão, que considera um potencial parceiro económico e na luta contra o terrorismo.
Contudo, a decisão do Supremo Tribunal russo não equivale, nesta fase, a um reconhecimento formal do governo talibã.
Este último não foi oficialmente reconhecido por nenhum país, devido, nomeadamente, à situação dramática dos direitos das mulheres no Afeganistão.
No entanto, além da Rússia, o Paquistão, a China, o Irão e a maioria dos países da Ásia Central mantêm relações diplomáticas de facto com o regime afegão.
Moscovo recebeu em diversas ocasiões emissários talibãs no seu território, mesmo antes do seu regresso ao poder.
A aproximação entre o Kremlin e Cabul pareceu acelerar-se após um atentado, em março de 2024, nos arredores de Moscovo: 145 pessoas foram mortas numa sala de concertos por quatro atiradores do grupo Estado Islâmico do Khorasan (EI-K), a filial regional da organização 'jihadista' presente no Afeganistão.
Em julho de 2024, o Presidente russo, Vladimir Putin, afirmou considerar os talibãs como "aliados na luta contra o terrorismo". Posteriormente, assinou no final de 2024 uma nova lei que permitia às autoridades russas alterar a lista de organizações proibidas no país.
Segundo este texto, a proibição de uma organização pode, doravante, ser "temporariamente suspensa" pela justiça em caso de "provas reais" de que o grupo em causa deixou de promover "o terrorismo".
Em outubro de 2024, o chefe da diplomacia russa, Serguei Lavrov, apelou ao Ocidente para que levantasse as sanções impostas ao Afeganistão e assumisse a "responsabilidade" pela reconstrução do país, devastado por décadas de guerra.
O secretário do Conselho de Segurança russo, Serguei Shoigu, deslocou-se a Cabul no final de dezembro, numa rara visita de um alto responsável estrangeiro, durante a qual declarou querer reforçar a "cooperação" com o Afeganistão.
Vários dirigentes talibãs combateram Moscovo nos anos 1980, durante a guerra travada durante uma década no país pela antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).
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