Se a Grécia sair do euro "não haverá vencedores"
O ministro dos Negócios Estrangeiros da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier, considerou hoje em Lisboa que "não haverá vencedores" caso a Grécia abandone a zona euro, mas exortou Atenas a "manter-se fiel aos compromissos" com os credores.
© Lusa
Mundo Frank-Walter Steinmeier
Ao responder a uma questão sobre o atual estado das negociações entre Atenas e os parceiros europeus, Steinmeier disse ser favorável à manutenção da Grécia na zona euro e insistiu que o objetivo das "negociações intensas" consiste em fazer com que o país "se mantenha fiel aos compromissos".
Em declarações no final de uma reunião de trabalho com o chefe da diplomacia portuguesa, Rui Machete, o ministro alemão referiu-se à "falta de liquidez" da Grécia, disse que "cada dia é decisivo" mas admitiu que se a Grécia deixar a zona euro "não haverá vencedores".
"Será crítico se não formos capazes de resolver o problema grego. Há boas razões para chegar a acordo, mas é preciso que a Grécia cumpra os seus compromissos", afirmou Steinmeier.
O ministro alemão exortou ainda Atenas a "tomar as decisões necessárias", e desejou que não sejam "levantadas suspeitas de que na Europa alguém quer expulsar a Grécia".
O Governo grego insistiu no fim-de-semana que "já fez o que tinha a fazer" para chegar a um compromisso sobre a dívida, e é a vez de a Europa "fazer a sua parte".
No decurso de uma conferência de imprensa conjunta antes de participarem no III Fórum Portugal-Alemanha, Steinmeier e Machete abordaram o estado das relações bilaterais, com o ministro alemão, membro do Partido Social-Democrata (SPD) -- que integra a "grande coligação" com cristãos-democratas da chanceler Angela Merkel --, a enaltecer as "reformas impressionantes" realizadas em Portugal desde 2011 e destacar os dados que apontam para o crescimento económico.
"Os anos de crise não foram fáceis para Portugal, são anos em que não há crescimento. Portugal é um exemplo que vale a pena sublinhar, já pode andar pelo seu próprio pé (...) está numa situação em que a população e a juventude têm de novo perspetivas e a Alemanha será um amigo solidário e atuante", assegurou.
O investimento das empresas alemãs, a cooperação entre entidades dos dois países, e a situação internacional foram outros temas debatidos entre os dois chefes de diplomacia.
Ucrânia, Médio Oriente, Magrebe e em particular a situação na Líbia "que está longe de ter uma solução política" e necessita de uma "política ativa europeia" foram outros vetores sublinhados por Frank-Walter Steinmeier, antes de uma referência particular à situação no Mediterrâneo, à necessidade de "evitar mais mortes" de imigrantes e de combater as redes de traficantes mas "com uma resolução da ONU".
O ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Rui Machete sublinhou as excelentes relações entre os dois países, a necessidade de iniciar "uma segunda fase da reforma da zona euro" e destacou o acordo bilateral assinado hoje no setor cinematográfico que prevê coproduções cinematográficas entre os dois países com o envolvimento de diversas entidades do poder central e local da Alemanha e contribuições que devem ascender aos 300 milhões de euros.
Ao referir-se à Grécia, Rui Machete também assinalou a preocupação com a situação financeira, a necessidade de o país permanecer no euro e o desejo de que o Governo de Atenas promova as reformas exigidas e cumpra os seus compromissos.
No final do encontro com jornalistas, o ministro alemão ainda se pronunciou sobre o referendo anunciado pelo Governo britânico sobre a permanência na União Europeia, sustentando que o Reino Unido se deve manter "um parceiro ativo", mas que ainda é necessário saber quais as "perspetivas" de Londres sobre as reformas que considera prioritárias.
Machete e Steinmeier participaram de seguida no III Fórum Portugal-Alemanha, uma iniciativa organizada pela Fundação Calouste Gulbenkian com o Instituto Português de Relações Internacionais e o Institut für Europäische Politik, e que termina na quinta-feira.
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