Em entrevista, no fim de semana, ao jornal Diário de Notícias e à rádio TSF, o primeiro-ministro António Costa disse que seria "útil para o país encontrar um veículo de resolução do crédito malparado, de forma a libertar o sistema financeiro de um ónus que dificulta uma participação mais ativa nas necessidades de financiamento das empresas portuguesas".
A líder do Bloco de Esquerda, Catarina Martins, comentou a proposta dando o exemplo espanhol: "Essa é uma solução eventualmente possível, mas eu lembro que foi utilizada em Espanha com dano para a economia espanhola e para o erário público".
O "banco mau" espanhol chama-se Sareb - Sociedade de Gestão de Ativos Procedentes da Reestruturação Bancária e foi criado em 2012, uma obrigação que decorreu do Memorando de Entendimento para o resgate da banca espanhola.
Como explicou à agência Lusa uma fonte oficial da entidade, "o Sareb nasceu para ajudar o saneamento do setor financeiro espanhol, em concreto as entidades que tinham problemas devido à sua excessiva exposição ao setor imobiliário".
Ou seja, o Sareb gere e comercializa até novembro de 2027 uma carteira de ativos imobiliários adquiridos com desconto a entidades que beneficiaram de ajuda financeira do Estado, libertando-as assim dos riscos associados.
Estes ativos imobiliários "tóxicos" são créditos para construção imobiliária em situação de incumprimento ou com risco de morosidade, bem como imóveis e terrenos que as entidades financeiras tiveram que assumir por falta de pagamento de hipotecas.
O Sareb adquiriu uma carteira de ativos de 50,78 mil milhões de euros, entregando como contrapartida dívida com aval do Estado. Os bancos podem assim utilizar esta dívida com aval dos contribuintes espanhóis como garantia perante o Banco Central Europeu (BCE) para obter financiamento barato, ou seja liquidez.
No total, o Sareb ficou com quase 200 mil ativos, dos quais 54% eram ativos imobiliários (terrenos e casas, vazias e arrendadas, bem como terreno industrial e espaços comerciais um pouco por toda a Espanha). Os restantes 46% eram créditos a promotores imobiliários (empréstimos para terrenos, obra em curso e imóveis já terminados, entre outros ativos).
Mais de três quartos do valor total da carteira correspondem a empréstimos aos construtores, enquanto apenas 23% dizem respeito a ativos imobiliários.
Em três anos, de 2012 a 2015, segundo dados divulgados pelo Sareb, esta instituição vendeu mais de 35 mil imóveis em Espanha e reduziu a sua carteira "tóxica" em 15,3%, passando de 50,78 mil milhões de euros para 42,9 mil milhões.
Um dos bancos que passou mais ativos para o Sareb (recebendo em troca mais de 19 mil milhões de euros em dívida com aval do Estado) chama-se Bankia e é apontado pela oposição espanhola como um dos maiores responsáveis pelo agravamento do "buraco" orçamental espanhol dos últimos anos.