"A Europa perdeu o controlo sobre o seu destino, em grande parte. Tem todas as suas fronteiras ou em conflito ou em tensão. Se olharmos para a fronteira Leste, a relação com a Rússia é muito difícil; as relações com a Turquia e o Médio Oriente são de uma enorme perigosidade; o norte de África está em tensão", disse Amado em entrevista ao Jornal de Negócios e à rádio Antena 1.
Na fronteira Atlântica, o antigo chefe da diplomacia portuguesa (de 2006 a 2011) recordou que a relação da Europa "com o tradicional aliado americano está sob o escrutínio" de uma mudança política, a nova administração de Donald Trump, "que ninguém sabe para onde nos orienta".
"Portanto a Europa está num contexto de 'insularização' relativamente às relações de vizinhança, que reflete, do meu ponto de vista, o fracasso da política europeia de vizinhança da última década", completou Luís Amado.
O também ex-ministro da Defesa Nacional comentou ainda as recentes declarações do presidente do Eurogrupo, o holandês Jeroen Dijsselbloem, quando este - numa referência aos países do sul da Europa, que foram alvo de auxílio externo - disse que "não se pode gastar todo o dinheiro em copos e mulheres e depois pedir ajuda".
"Algumas dessas declarações são irresponsáveis, do meu ponto de vista. Precisamente porque os fatores de coesão, num contexto de desintegração e fragmentação que se vive, têm que partir dos principais responsáveis políticos", disse Amado.
Para o ex-MNE, "há muita desorientação nos círculos da elite do poder europeia, que perdeu o controlo da situação e que sente muitas dificuldades neste momento em posicionar-se, designadamente em relação a problemas fundamentais, como o de garantir a coesão".
Ainda assim, Luís Amado descarta a possibilidade de o projeto europeu "pura e simplesmente colapsar".
"Não há condições para que o projeto europeu não tenha continuidade. Mas tem de haver aqui um equilíbrio entre o que são as realidades nacionais, os seus interesses, e a visão de um interesse estratégico comum que seja o mínimo denominador do processo de integração", disse.
Na mesma entrevista, para o programa Conversa Capital, o antigo presidente executivo do BANIF considerou "absolutamente exigente" a necessidade de o Estado proteger a Caixa Geral de Depósitos (CGD).
"Acho que é preciso proteger a Caixa, que é uma grande instituição de referência no sistema financeiro nacional, e já não temos muitas de referência a nível nacional", sublinhou Luís Amado.
Para o antigo banqueiro, esta necessidade é mais premente devido à "existência de fortíssimas instituições financeiras na economia espanhola", que lhe dão uma vantagem face a Portugal "no processo de integração da economia ibérica".