"É impensável estar no mercado, como estamos há 22 anos, se tivéssemos este tipo de comportamento errado de andar a meter código para gerar necessidades de pedidos de assistência", disse o arguido, que falava na primeira sessão do julgamento.
O empresário, que responde por um crime de sabotagem informática, juntamente com um técnico informático e a própria firma, considerou "injustas e falsas" as acusações de que estão a ser alvo, afirmando que nunca tiveram nenhum ganho com esta situação.
O arguido começou por dizer que foram detetadas "várias anomalias" no sistema informático do cliente, nomeadamente ao nível da gestão de 'stocks', que se refletiam na sua utilização.
Nesse sentido, decidiram desenvolver um programa informático que chamou de "facilitador de movimentos de 'stock'", que estava na fase de "afinações".
"O trabalho não estava terminado e o técnico colocou um mecanismo de proteção para evitar que alguém mexesse no código que ele estava a programar", explicou.
O empresário esclareceu ainda que a situação descrita na acusação "aconteceu duas vezes no mesmo dia", adiantando que "nenhuma outra intervenção prévia teve a ver com este aspeto da acusação".
Segundo a acusação do Ministério Público (MP), os factos tiveram início em setembro de 2014, quando a sociedade arguida foi contratada por uma empresa aveirense dedicada à prestação de serviços em eletrónica e telecomunicações para implementar novas funcionalidades no seu sistema informático adequadas às especificidades do negócio.
O MP diz que os arguidos instalaram um código no sistema informático da empresa que, quando era executado, "levava à eliminação e inoperacionalidade de algumas das funcionalidades específicas".
Em consequência disso, ocorreram "inúmeros e sucessivos" bloqueios no sistema informático, impossibilitando a laboração nalguns serviços daquela firma, nomeadamente a parte da faturação, guias de transporte, parte fabril e 'stocks'.
Esta situação, de acordo com a investigação, implicava a necessária ativação dos serviços de reparação e intervenção técnica da arguida com vista à sua reparação, o que acarretou só em horas de intervenção/reparação o custo de cerca de 16 mil euros.
O esquema só foi descoberto em abril de 2015, após uma empresa que estava a fazer uma auditoria externa ter alertado que estes bloqueios não poderiam ser considerados normais, tendo os arguidos, nessa altura, decidido remover o procedimento doloso.
A empresa, que se queixa de ter sido vítima de um esquema fraudulento, diz ter tido "avultados" prejuízos com as sucessivas paragens na fábrica, reclamando uma indemnização de 365 mil euros.