"Quanto a interferências políticas, naturalmente que não vou comentar. Vou dizer-lhe que a primeira reunião que eu tive com esta direção de informação, em novembro de 2018, comuniquei que precisava de seis repórteres e foi-me dito que aguardasse pela chegada de Cândida Pinto [atual diretora-adjunta da RTP]", disse Sandra Felgueiras, que falava na comissão parlamentar de Cultura e Comunicação.
Segundo esta profissional, após a chegada da Cândida Pinto à estação pública, teve mais uma reunião com a direção de informação, na qual lhe foi comunicado um prazo de dois meses para o reforço da equipa, o que não aconteceu.
"Em junho, com uma equipa esgotadíssima pelo trabalho, a diretora-adjunta perguntou a todos como se sentiam e alguns começaram a chorar. A diretora-adjunta não perguntou como me sentia, mas se perguntar quem fez o 'Sexta às 9' e chamar todos os repórteres, todos responderão que fui eu", acrescentou.
A jornalista disse ainda que, atualmente, o programa conta com quatro repórteres, maioritariamente, jovens, que não recebem salários correspondentes ao trabalho que exercem, sublinhando que "entregar o jornalismo de investigação a jornalistas que não estão preparados", obriga-a a um esforço "que não é digno para o serviço público de informação".
Sandra Felgueiras garantiu também que apresentou soluções à direção da RTP, vincando que "não é digno" ter jornalistas a ganhar o mesmo que caixas de supermercado.
Questionada pelo PS sobre a possibilidade de existência de um "processo de intenções", a jornalista negou e convidou o grupo parlamentar a assistir a todos os episódios do programa, nomeadamente, os que correspondem ao período de governação do PSD e CDS.
"Vou relatar factos e não interpretações sobre factos. Acho curiosa a expressão, mas da minha parte e de toda a minha equipa, não há um processo de intenção, mas a defesa intransigente do serviço público", notou.
Durante a sua intervenção, a jornalista apontou ainda as diferenças entre o tratamento que é dado pela RTP ao "Sexta às 9" e ao "Linha da Frente", o único formato que para a profissional que se assemelha ao primeiro, remetendo mais esclarecimentos para a direção de informação.
"Se existe um tratamento diferenciado, terá que perguntar à direção de informação. O 'Linha da Frente' tem repórteres fixos e o 'Sexta às 9' tem uma equipa nova, dois terços nunca fez jornalismo de investigação. São pessoas que estão a trabalhar com recursos mínimos, o que já comunicámos à diretora de informação [Maria Flor Pedroso], sem qualquer êxito", concluiu.