Enfermeiro do SNS: "É uma situação muito delicada gerida a cada segundo"
Assumindo que esta pode ser a "guerra dos nossos tempos", a mensagem de Nuno Moreira, um dos muitos profissionais de saúde que está na 'frente da batalha', é de confiança. "Temos de acreditar que vamos todos conseguir ultrapassar este momento difícil", diz-nos.
© Nuno Moreira
País Covid-19
Nuno Moreira é enfermeiro e está na primeira linha de resposta aos doentes com Covid-19 no Hospital Curry Cabral, em Lisboa. Esta semana, uma fotografia sua emocionou Portugal e deu a volta ao mundo: uma imagem de dois profissionais de saúde a consolarem-se. Só eles saberão o que sentiram e o que sentem.
Conversámos com Nuno esta quarta-feira, no final de mais um turno. Nunca trabalha menos de 8 horas. Às vezes chega às 16 horas, como acontecera na terça-feira.
E a primeira mensagem de Nuno é de confiança e de serenidade.
"Eu, enquanto Nuno e profissional de saúde, mantenho-me confiante e sereno (dentro do possível, já lidei com outras situações de pandemia, como o Ébola, que felizmente em Portugal só atingimos o nível de suspeitas). Acredito em todos os portugueses, profissionais de saúde e não só, temos de ser conscientes e temos de acreditar que vamos todos conseguir ultrapassar este momento difícil".
A segunda mensagem, que condiciona irremediavelmente a primeira, é o de apelar a todos os cidadãos que sigam à risca as orientações da autoridade de saúde. "O que posso apelar e pedir a todos é que fiquem em casa, cuidem dos seus, e nos permitam cuidar de todos. Por favor, sigam as recomendações da DGS".
Nuno, de 36 anos, é enfermeiro de Infecciologia e garante que está a ser feito "tudo o que está dentro do alcance" dos profissionais de saúde. O nível de desgaste e tensão, diz, "é muito elevado". A família, em casa, também sofre. "É uma realidade. Não só pela nossa ausência, por assistir ao nosso desgaste mas também pelo risco que diariamente levamos para casa".
Questionámos este profissional de saúde sobre se Portugal poderá viver o que Itália está a viver, com um serviço de saúde sem capacidade de responder a todos e a ter de, forçosamente, escolher quem tratar, mas Nuno prefere não entrar no campo das previsões: "Como compreenderá é uma situação muito delicada gerida a cada segundo. Eu enquanto profissional de saúde e estando na primeira linha de resposta não posso e não devo entrar no campo da estatística e previsibilidade".
Mas uma coisa admite: "Esta pode ser considerada 'guerra dos nossos tempos'". Também o Presidente da República o admitiu esta quarta-feira à noite no momento em que declarava o estado de emergência nacional - uma "decisão excecional", vincou - que vigorará, pelo menos, durante os próximos 15 dias e cujas regras serão conhecidas esta quinta-feira, depois de mais uma reunião de Conselho de Ministros extraordinária.
Sendo certo que será uma guerra longa, Nuno pede que sejamos "um por todos e todos por um". "Precisamos de todos vocês, precisamos que cumpram as indicações e permaneçam em casa , lavem as mãos e evitem os contactos sociais", reforça.
Profissional de saúde no Curry Cabral, momento captado por Nuno Moreira. "Um agradecimento a todos pela corrente de energia positiva! Estamos na linha da frente , cansados, exaustos, mas determinados a cuidar de todos os que nos chegam nas melhores ou piores condições ! Fazemos o nosso trabalho não sabendo o dia de amanhã , não sabendo se vamos ter tempo para ver a nossa família ou se vamos sequer regressar a casa"© Nuno Moreira
Em Portugal, de acordo com o boletim epidemiológico desta quarta-feira, há 642 casos de infeção por Covid-19, duas mortes a registar e três pacientes curados.
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