Conhecidos o boletim epidemiológico desta segunda-feira - que dá conta de mais seis mortes e 232 novos casos nas últimas 24 horas, o secretário de Estado da Saúde, António Lacerda Sales, a diretora-geral da Saúde, Graça Freitas, e o presidente do Conselho Diretivo do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA), Fernando Almeida, atualizaram a informação relativa ao surto de Covid-19 em Portugal na habitual conferência no Ministério da Saúde.
Dos novos casos hoje reportados, 195 dizem respeito à região de Lisboa e Vale do Tejo, ou seja, 84,1% dos novos casos, destacou o secretário de Estado na intervenção inicial.
O governante sublinhou também que 96,2% dos casos ativos da doença no país encontram-se a recuperar no domicílio, estando 3,8% dos casos de infeção internados, destes 0,5% em unidades de cuidados intensivos e 3,3% em enfermaria.
Ainda de acordo com Lacerda Sales, atualmente a taxa de letalidade global é de 3,7%.
"Um caminho longo" e com aspetos a melhorar
"Temos feito um longo caminho no combate à Covid-19 no nosso país", frisou o governante, acrescentando que "nunca negámos que Portugal, como a generalidade dos países, não estava preparado para uma epidemia desta escala, com estas características, da qual quase seis meses depois do primeiro caso em Whuan ainda há muito por descobrir".
"A nossa primeira prioridade foi proteger vidas", notou Lacerda Sales, recordando a defesa dos mais vulneráveis como a "grande preocupação". O secretário de Estado salientou que, para além de registar menos óbitos, Portugal teve uma menor pressão nos serviços de saúde e testou mais do que a maioria dos países da Europa. "Usámos as ferramentas que tínhamos disponíveis, corrigimos as limitações com que nos fomos deparando e robustecemos o sistema com outras respostas", enalteceu.
Na mesma linha, Lacerda Sales destacou que "a boa capacidade em responder aos desafios impostos não depende apenas do Estado". Nesse sentido, lembrou, "temos apelado desde sempre à responsabilidade individual para o nosso sucesso coletivo". Além disso, assumiu: "Temos ainda de conhecer a realidade no terreno para melhor adequar a resposta". "E é também por isso que temos solicitado a notificação atempada de casos por parte dos profissionais de saúde", argumentou.
O governante reconheceu ainda que o país precisa de "melhorar a integração de plataformas", nomeadamente o Sinave Lab, e outros, "para termos uma radiografia mais fina da situação". "Estamos a trabalhar nisso, enquanto se continua a combater a pandemia em direto", assegurou.
Inquérito serológico do INSA quase pronto
Lacerda Sales deu conta que a recolha de dados para o inquérito serológico levado a cabo pelo Instituto Nacional Dr. Ricardo Jorge terminou na sexta-feira e que este conta com 2.100 participantes de todas as idades e provenientes de todas as regiões de saúde e regiões autónomas dos Açores e da Madeira.
O trabalho de análise laboratorial teve início no dia 27 de junho, estando os resultados preliminares do estudo concluídos ainda este mês, disse o governante que classificou a investigação como "muito importante". Este "dará respostas cruciais para a preparação da nossa resposta no futuro".
Fernando Almeida, do INSA, destacou, neste momento, já estão feitas 1.500 análises feitas às amostras que foram chegando ao laboratório, estando neste momento a proceder-se à análise caso a caso. "Vamos fazer uma determinação que tem a ver, não só dos anticorpos totais, mas também aquilo a que chamamos imunoglubinas para, de um modo mais fino, percebermos o tipo de imunização e de anticorpos que a população portuguesa eventualmente poderá ter nomeadamente no que se refere à proporção dos positivos", detalhou o responsável, assinalando que os resultados dos inquéritos noutros países "não são muito animadores".
"Esperamos aqui perceber, concretamente, a proporção de casos com algum nível elevado de anticorpos", vincou, lembrando que este é um estudo piloto que irá ter continuidade. O inquérito irá ser repetido cinco meses depois deste, precisou Fernando Almeida. E depois, de três em três meses, até um ano.
Para além deste estudo, o INSA está a pensar realizar outros três: um dedicado a doentes que tiveram diagnóstico de Covid-19 para perceber o nível de anticorpos e de imunização; outro dedicado aos profissionais de saúde (um estudo que terá o apoio da OMS) e outro de mães com recém-nascidos "para saber em que medida uma mãe que teve Covid-19 pôde transmitir anticorpos ao recém-nascido".
Calor intenso, cuidados redobrados
Na sua intervenção, a diretora-geral de saúde quis deixar um alerta relacionado com o calor intenso que se verifica no país. "Há indícios que este calor pode ter impacto negativo não só na saúde, como na mortalidade, nomeadamente através da descompensação de doenças crónicas graves em pessoas mais vulneráveis", sublinhou.
Graça Freitas apelou, por isso, à população para que se hidrate, sobretudo com água, mas também com sumos sem açúcar, tizanas e sopas, se for caso disso; para que se proteja do calor intenso; que utilizem roupa adequada e que areje as habitações. Estes "são conselhos básicos que não podem ser desconsiderados", alertou.
"Número total de casos que fornecemos ao país é um número fiável"
Respondendo a questões dos jornalistas, a diretora-geral de Saúde referiu que a vigilância epidemiológica em Portugal "nunca foi tão escrutinada".
"Conseguimos captar, desde o início da pandemia, quase 400 mil pessoas que foram consideradas suspeitas. Cada uma destas pessoas tem variadíssimos pârametros analisados e registados pelo seu médico na notificação médico e também nos seus dados laboratoriais", afirmou, desvalorizando os problemas de notificação dos 200 casos em Lisboa e Vale do Tejo. Dito isto, prosseguiu, há mais de 125 dias que Portugal reporta "ininterruptamente" o total de casos confirmados no país.
"E eu digo Portugal com muito orgulho, porque muitos países não reportam com esta regularidade, nem a nível nacional nem a nível internacional". Por isso, destacou a diretora-geral, "temos de estar muito orgulhosos do caminho que fomos fazendo para fornecer aos decisores e aos portugueses a informação mais perto possível da realidade".
A responsável indicou que "há duas coisas que têm de ser feitas todos os dias", com métodos mais ou menos modernos: "Primeiro, ter a certeza que quando um médico notifica um caso suspeito, que esse caso enquanto não é confirmado não é contabilizado. Depois, aguardar o resultado laboratorial. Quando chega o resultado, cruzar fontes de informação para evitar duplicações", explicou. Posteriormente, há ainda que verificar se o teste positivo é o teste do diagnóstico ou da fase seguinte da cura. "É um sistema complexo, que tem vindo a ser afinado para permitir que um indivíduo só conte uma vez".
Assim, garantiu, "o número total de casos que fornecemos ao país é um número fiável".
Discrepâncias de dados nos concelhos
Relativamente aos concelhos, "os nossos colegas têm outros instrumentos", ou seja, "conseguem captar dados precocemente que ainda não entraram nas plataformas informáticas, sabem através do próprio doente que foi diagnosticado ou de um contacto, sabem através do hospital ou do centro de saúde. "Portanto, no próprio dia esta informação não é completamente compatível", explicou, sublinhando que diariamente o sistema vai sendo afinado.
Quanto aos 200 casos de LVT, que resultam do facto de um laboratório ter estado três dias sem reportar nada, estes têm agora que ser alocados aos respetivos concelhos. Aproveitou-se a circunstância para juntar todas as bases nacionais a todas as bases locais para tentar aprimorar e chegar ao número mais real a nível concelhio, especificou ainda Graça Freitas, garantindo que a discrepância "não tem nada a ver com esconder casos".
Ajustamentos de dados são feitos em todos os países
Sobre os dados, o secretário de Estado disse que os ajustamentos são feitos em todos os países da Europa e recordou que por exemplo o Reino Unido, no dia 1 de julho, anunciou mais de 313 mil casos acumulados, no dia seguinte tinha 283 mil, menos 30 mil casos. "Fez o seu ajustamento, com certeza com algum critério que encontraram". Espanha fez igualmente uma recontagem dos óbitos. "Não somos nem piores nem melhores que os outros países, se for preciso fazer algum ajustamento, claro que o faremos", afirmou.
Recorde aqui a conferência da DGS:
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