Após as reações do Sindicato Independente dos Médicos (SIM) e de partidos, foi a vez da Federação Nacional dos Médicos (FNAM) emitir um comunicado sobre as polémicas declarações de António Costa, proferidas em 'off' em conversa com jornalistas do Expresso, sobre o surto ocorrido no lar de Reguengos de Monsaraz. "É que o presidente da ARS mandou para lá os médicos fazer o que lhes competia. E os gajos, cobardes, não o fizeram", foram as palavras do primeiro-ministro, ditas num vídeo que se tornou, entretanto, viral nas redes sociais.
A FNAM diz-se "surpreendida com a divulgação" das imagens e acrescenta que as frases, "proferidas por um chefe de Governo, são chocantes e totalmente inapropriadas, insultando de forma vergonhosa e indigna todo um grupo profissional cuja competência, capacidade de trabalho e resiliência para exercer a sua profissão em condições cada vez mais degradadas, pondo os interesses dos doentes acima de qualquer outra consideração, não pode ser contestada".
A Federação diz ainda que as afirmações que António Costa "vem proferindo desde há uma semana, acusando os médicos de se terem recusado a prestar serviço" no referido lar "não são verdadeiras".
Na mesma nota, a que o Notícias ao Minuto teve acesso, a organização esclarece que "os médicos têm vínculo com a sua entidade empregadora, que não é o lar de Reguengos de Monsaraz, e têm obrigações para com os utentes da unidade onde desempenham funções – o Agrupamento de Centros de Saúde (ACES) do Alentejo Central – e que se viram privados de acesso ao seu médico".
A FNAM destaca também que "desempenho dos médicos durante todo o decurso da pandemia por SARS-CoV-2 foi exemplar" e elenca situações a que estes profissionais se sujeitaram, como a "reorganização dos serviços, a uma carga horária excessiva, a limitações de acesso a equipamentos de proteção individual adequados", que "culminou numa morte e em sequelas respiratórias permanentes em muitos outros". É ainda considerado que "apesar de todo o esforço e dos riscos assumidos, o Governo nada tem feito para melhorar as condições de trabalho dos médicos".
"Também em Reguengos de Monsaraz, os médicos prestaram assistência aos utentes do lar, de forma voluntária, apesar das condições desumanas em que os encontraram, e cumpriram a sua obrigação de denúncia desta situação de abandono e da falta de segurança em que lhes foi exigido desempenhar as suas funções", acrescenta-se.
Deste modo, e tendo em conta que os médicos "foram e continuam a ser fundamentais para a garantia do acesso a cuidados de saúde de qualidade e mesmo para a recuperação económica do país", a FNAM sublinha que estes profissionais "merecem ser tratados com respeito e consideração por todos e sobretudo pelo Primeiro-Ministro de Portugal".
"Os médicos não aceitam trabalhar sob intimidação, seja do Primeiro-Ministro ou de qualquer outro membro do Governo", frisa, acrescentando a Federação que "exige que o Primeiro-Ministro se retrate das declarações insultuosas que proferiu e que o Presidente da Administração Regional de Saúde (ARS) do Alentejo, a Diretora-Geral da Saúde e as Ministras da Saúde e do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social assumam as suas responsabilidades no caso de Reguengos de Monsaraz."