"A reabertura das escolas, no seguimento das medidas de relaxamento do confinamento, tem uma grande propensão para originar uma segunda onda, mas há uma boa noticia que é a de que a segunda onda não é uma fatalidade, não é uma coisa inevitável e conseguimos até estimar o que podemos fazer para a evitar", disse o especialista.
De acordo com os modelos matemáticos apresentados, para que se evite uma segunda vaga do novo coronavírus em Portugal é preciso ter em conta "duas circunstâncias": os contactos na sociedade e os contactos nas escolas.
Segundo Manuel do Carmo Gomes, se aquando da reabertura das escolas os contactos nas escolas forem reduzidos em 30% em relação à época "pré-covid", "a probabilidade de uma segunda onda é muito baixa".
No entanto, para evitar o surgimento da segunda vaga, o especialista defendeu que será também necessário que os contactos na sociedade sejam reduzidos para metade daquilo que era o "pré-covid", uma vez que "não basta alterar o comportamento dos jovens nas escolas".
"Há um aspeto positivo. O modelo prevê que é possível evitar a segunda onda, dá-nos uma indicação daquilo que temos de fazer para evitar a segunda onda", referiu o especialista.
Numa intervenção com o tema "Um regresso seguro à escola", Henrique Barros, presidente do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP) sublinhou que independentemente de virem a existir "ondas", não basta prestar atenção apenas aos casos positivos, mas também aos casos assintomáticos.
Henrique Barros disse ainda que apesar da abertura das escolas, é espectável que "o índice Rt (índice de transmissibilidade) não aumente mais" do que os valores que regista atualmente.
"É possível pensar que seremos capazes de controlar a situação", disse Henrique Barros, considerando também importante a reabertura das escolas, nomeadamente, para que informações do ponto vista da saúde, cuidados de higiene e de segurança sejam transmitidos às crianças e jovens.
Carla Nunes da Escola Nacional de Saúde Pública, que na sessão apresentou dados do período de reabertura das escolas em 18 de maio e em setembro em outros países europeus, afirmou que a "heterogeneidade de planos de segurança e de higiene é muito grande", considerando que as escolas são "apenas um dos setores que está abrir" e que proporciona "alterações de comportamentos" em vários grupos, não só nas crianças e nos mais jovens.
Durante a sua apresentação, a especialista, que recorreu a dados de outros países europeus, afirmou que o aumento de casos verificados, por exemplo nos países nórdicos, "não pode ser atribuído apenas à reabertura das escolas", mas ao relaxamento das medidas de higiene e segurança neste período de verão.
A especialista defendeu por isso a necessidade de envolvimento dos alunos, professores, pais, escolas e autoridades de saúde para este próximo ano letivo, considerando que este envolvimento tem também de ser "adaptado localmente".
O encontro junta o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, o primeiro-ministro, o presidente da Assembleia da República, Eduardo Ferro Rodrigues, líderes partidários, patronais e sindicais.
A pandemia de covid-19 já provocou pelo menos 889.498 mortos e infetou mais de 27,1 milhões de pessoas em 196 países e territórios, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.
Em Portugal, morreram 1.843 pessoas das 60.507 confirmadas como infetadas, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.