Questionada pela Lusa sobre várias queixas publicadas em fóruns internacionais de peregrinos relativas a assaltos ocorridos sobretudo sobre mulheres e na faixa entre Sacavém (Loures) e Forte da Casa (Vila Franca de Xira), no distrito de Lisboa, a Direção Nacional da Polícia de Segurança Pública afirma que, na área da sua responsabilidade, "ainda que não seja possível quantificar os crimes dos quais os peregrinos são vítimas", pode "afirmar que é baixa a sua incidência, o que não significa que, pontualmente, não se verifiquem".
Num dos casos mais recentes, ocorrido no passado dia 19 de setembro, relatado em https://www.caminodesantiago.me/community/threads/i-was-the-peregrina-that-was-assaulted-close-to-sacavem-on-camino-portugues.50862/, uma peregrina norte-americana sublinha o apoio recebido após o assalto de que foi alvo e alerta para a necessidade de se repensar o trajeto nesta zona e de se reforçar o policiamento.
Há relatos de outras duas peregrinas assaltadas no dia 16 de setembro, próximo de Vila Franca de Xira, por um homem que usou uma faca. Este relato levou outra peregrina, holandesa, a comunicar que foi roubada e violada no mesmo local e em circunstâncias muito semelhantes em 2016, havendo outra queixa de 2017.
O relato de uma das peregrinas assaltadas em 16 de setembro, norte-americana, refere um assalto a uma estudante na mesma zona no dia seguinte, sensivelmente à mesma hora (entre as 18:00 e as 18:30).
"Consciente da importância que as peregrinações assumem para grande parte da população nacional e também para cidadãos de outros países que se deslocam a Portugal exclusivamente com esse propósito, [a PSP] acompanha e monitoriza a passagem de peregrinos na sua área de responsabilidade, acompanhamento que é feito, quer através do normal patrulhamento, quer através do programa de policiamento de proximidade, com especial direcionamento de meios para os chamados 'Caminhos de Fátima/Santiago'", lê-se na resposta desta força policial à Lusa.
Por outro lado, assegura que, a exemplo do que ocorre noutras situações, "desenvolve as diligências investigatórias com vista à identificação do(s) suspeito(s) e presta o apoio possível e encaminhamento necessário às respetivas vítimas".
Questionada sobre afirmações de peregrinas que se queixam de terem assinado o relato policial dos seus depoimentos sem terem acesso a tradução e de adulteração de dados, a PSP afirma estar a proceder a averiguações no sentido de apurar o sucedido, não descartando, "no imediato, uma falha na comunicação entre as vítimas e o efetivo policial com quem contactaram, tendo em conta as barreiras linguísticas que por vezes surgem".
Natércia Romãozinho, da associação Via Lusitana, disse à Lusa que em milhares de peregrinos que passam pelo caminho, as queixas de assaltos ou mesmo "ataques" são residuais, mas, frisou, "basta uma para ser grave".
Salientando não existir "um padrão nacional" na forma como as autoridades policiais lidam com o assunto, a responsável da associação que possui vários albergues para peregrinos afirmou que, se em algumas zonas existe uma colaboração estreita e maior sensibilidade, sobretudo nos últimos anos, noutras as situações são "subvalorizadas", o que "não dá bom nome" ao Caminho.
Por seu turno, Rodrigo Cerqueira, da Associação dos Amigos dos Caminhos de Fátima, defende a existência de um plano nacional de proteção dos caminhos, com policiamento sobretudo nos locais referenciados como registando ocorrências, mesmo que ocasionais, como acontece entre Sacavém e Forte da Casa.
Apelando a uma maior articulação entre as forças de segurança e as associações que prestam apoio aos peregrinos, Rodrigo Cerqueira sugere a criação de uma aplicação como a que existe em Espanha para reporte de problemas que surjam no Caminho.
"É uma má imagem que se passa de Portugal", disse, pedindo que se "tomem medidas" para que os alertas deixados pelos peregrinos tenham consequências e para que os caminhos sejam de facto seguros.