Gustavo Carona, médico intensivista do Hospital Pedro Hispano, no Porto, e membro da organização Médicos Sem Fronteiras, recusou recentemente participar programa 'Dia de Cristina', da TVI. O clínico deixou um vídeo nas redes sociais a explicar o motivo e aproveitou para deixar um alerta para a necessidade de credibilizar as instituições de saúde.
O médico intensivista do Porto começa por explicar, no vídeo que pode ver abaixo, que foi convidado para participar no programa da TVI, revelando que tem todo o gosto "em contribuir para a informação dos portugueses".
A recusa de Gustavo Carona foi, porém, motivada pelo facto de a produção do programa lhe ter pedido que se deslocasse aos estúdios de gravação, em Lisboa, acompanhado pela mãe. "Tenho todo o interesse em informar as pessoas sobre a minha visão da Medicina, do desafio que estamos a passar, sendo que não estou minimamente interessado em contribuir para telenovelas. Nada contra a pessoa, ou o programa, a minha indignação vem pelo facto de que isto é, de alguma forma, representativo da total desorientação e incompreensão do desafio que estamos a passar".
O médico vai ainda mais longe e deixa um alerta para "este desafio", referindo-se ao surto de Covid-19, que "tem contornos nunca antes vistos". É, pois, "preciso acreditar nas instituições e nas pessoas que sabem mais do que nós para perceber a saúde no global. Se desacreditarmos as instituições, neste momento, tudo se transforma em caos, em desordem e é impossível conseguirmos o bem comum".
Gustavo Carona prevê que Portugal passará por aquilo que apelida de "Medicina de Catástrofe", cujo conceito prevê que se faça "o máximo pelo o maior número de pessoas". Mas a Medicina de Catástrofe "tem [também] outra mensagem. Ao dizer isto, estamos também a dizer que não vamos conseguir fazer tudo, que há pessoas que morrem e não precisavam de morrer. Vamos ter de fazer escolhas".
Não manifestando particular apreço pelos decisores políticos, Gustavo defende que tem "todo o respeito do mundo" por quem está incumbido de tomar decisões para controlar a pandemia. "Percebo que ninguém queira ser decisor político neste momento. É preciso uma grande coragem para estar a ser atacado por ignorantes que não sabem rigorosamente nada e que querem transformar isto numa questão política, que não o é".
Não querendo veicular uma "apologia do medo", o especialista defende, antes, "uma apologia da seriedade. Isto está a acontecer. Se nós não percebermos isto, se nós quisermos contar historinhas, ir atrás dos imbecis, dos negacionistas, dos relativistas e das teorias da conspiração, se nós quisermos ir atrás destes anormais, nós vamo-nos arrepender. Isto está a acontecer neste momento".
E, se a crise pandémica não for encarada com seriedade, "isto vai rebentar. Não é tempo para questionar as autoridades de saúde", reitera, acrescentando que "isto não se resolve nos hospitais, isto resolve-se a montante dos hospitais. Não há nada que nós possamos fazer nos hospitais para controlar a pandemia. Isto é um problema de saúde pública, é um problema da sociedade civil, é um problema do nosso comportamento coletivo".
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