Marcelo realça dificuldade do combate à Covid e assume "responsabilidade"

O Presidente da República realçou esta segunda-feira a dificuldade de planeamento no combate à pandemia de covid-19, com uma crise económica em simultâneo, mas disse compreender as críticas e assumiu "responsabilidade suprema" pelos erros cometidos.

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Lusa
02/11/2020 23:54 ‧ 02/11/2020 por Lusa

Política

Covid-19

Em entrevista à RTP, a partir do Palácio de Belém, em Lisboa, Marcelo Rebelo de Sousa disse compreender "as críticas, as angústias e o estado de espírito dos portugueses, muitos", que "apontam erros, atrasos, contradições, ziguezagues" na resposta a esta pandemia.

No entanto, salientou que desde março "a pandemia nunca parou" e interrogou: "Quem é que pode planear quando os problemas estavam a surgir todos os dias? Planeava-se, mas no dia seguinte já estava ultrapassado. Eu era o primeiro a dizer: tem de se planear".

"Eu não estou a absolver erros nem a dizer que não houve erros. Eu sou o maior responsável por eles, porque o Presidente da República é o maior responsável por aquilo que corre mal em Portugal", acrescentou o chefe de Estado.

Confrontado com o facto de o Presidente não ter funções executivas, contrapôs: "Mas dá cobertura política. Portanto, eu sou o maior responsável por o que aconteceu".

"Eu estou a assumir a responsabilidade suprema por tudo isto", reforçou.

Em seguida, Marcelo Rebelo de Sousa assinalou que após a fase inicial da epidemia de covid-19 em Portugal, "entrou-se em crise económica e social, portanto, o Governo passou a ter não uma frente, mas duas" e desde então "as medidas passaram a ter de ser calibradas".

Nesta entrevista conduzida pelo diretor de informação da RTP, António José Teixeira, o Presidente da República prometeu convocar as eleições presidenciais "até ao final do mês de novembro" e depois anunciar a sua decisão sobre uma recandidatura em "finais de novembro, princípios de dezembro".

O chefe de Estado fez alusão à salvaguarda dos direitos políticos em vésperas dessas eleições defendida esta segunda-feira pelo PAN a propósito de um eventual estado de emergência e disse querer deixar claro "que não pode haver qualquer tipo de restrição à obtenção de assinaturas e àquilo que é fundamental numas eleições democráticas`".

No final da entrevista, Marcelo Rebelo de Sousa deixou uma nota sobre eleições nesta conjuntura de crise: "Eu tenho observado com atenção todas as eleições havidas em pandemia, e conta-se por um, dois dedos aqueles que foram reeleitos dos que eram responsáveis durante a pandemia, os que não perderam eleições".

"Tem sido governos a perder eleições e tem sido presidentes a perder eleições, mas quem é eleito é eleito para ser punido, não é só para ser louvado, é para ser punido por aquilo que corre mal", considerou.

Quanto a Portugal, no seu entender, "o profetizar que há um cheiro a crise" política começou "desde que chegou a pandemia e surgiu a crise económica e social, porque em princípio o que é normal é quem é responsável politicamente nesses períodos sair muito mal".

"Mesmo o Churchill, que ganhou a guerra, foi corrido a seguir", observou, referindo ainda que o Governo PSD/CDS-PP chefiado por Pedro Passos Coelho "encaminhou a crise anterior no sentido de uma solução", mas a seguir "não teve maioria parlamentar".

Marcelo Rebelo de Sousa contou que esteve "a ler um livro sobre a peste bubónica no Porto no fim do século XIX" e verificou "como a História se repete".

"O primeiro grande especialista de saúde pública chamado Ricardo Jorge chegou lá e detetou a peste bubónica, propôs medidas. Não houve acordo entre as autoridades e os especialistas, as medidas das autoridades começaram por ser populares, passaram a ser impopulares. O Ricardo Jorge foi tão impopular que apedrejaram a casa onde pensavam que ele estivesse, e depois queriam-lhe destruir a casa, teve de fugir do Porto. Mais, o povo revoltou-se de tal maneira que começou a negar a existência de peste", relatou.

Relativamente à resposta política à pandemia de covid-19, o chefe de Estado argumentou que o planeamento se tornou mais difícil com a descoberta de que "a região de Lisboa tinha números que tinham passado despercebidos", e mais tarde com "a surpresa da chamada segunda vaga, não na transição do outono para o inverno, mas do verão para o outono".

Na sua opinião, houve falhas na comunicação: "É um ponto em que eu acho que nem sempre estivemos bem, eu admito isso, e se há alguém que está atento à comunicação sou eu, ao longo da minha vida".

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