Investigador Arnaldo Saraiva diz que "Portugal perdeu um sábio"
O professor jubilado e investigador científico e literário Arnaldo Saraiva disse hoje à Lusa que, com a morte de Eduardo Lourenço, aos 97 anos, "Portugal perdeu um admirável companheiro, um sábio".
© Global Imagens
País Eduardo Lourenço
"Eduardo Lourenço foi um homem extremamente aberto ao mundo, aos homens, à vida. Um homem sereno, que se guiava pela razão, mas que era um sentimental, sensível às nossas fraquezas, humanas e portuguesas, e com grande capacidade de admiração do que era criador", destacou Arnaldo Saraiva, em declarações à agência Lusa.
O ensaísta Eduardo Lourenço morreu hoje em Lisboa.
Sobre o percurso do ensaísta, o antigo professor da Universidade do Porto afirmou que era "um grande estímulo para todos quantos em Portugal pensam transformar o país ou pensam favorecer a condição de português e de humano, porque conseguiu dialogar com pensadores, com pessoas de várias ideologias, sendo sempre cordial, oposto aos fanatismos e útil na sua tradução cultural extraordinária, como ensaísta que se conhece bem e como poeta, que se conhece pouco".
Recordando a "sorte de estar com ele em vários lugares em vários tempos", Arnaldo Saraiva lembrou o tempo partilhado "desde a terra natal dele e da Guarda, até Providence, nos Estados Unidos, no Rio de Janeiro e em São Paulo, no Brasil, ou Paris, em França".
"Mesmo quem não conviveu com ele de perto, fosse em passeios simples, fosse em colóquios ou conferências, acontecimentos festivos ou no dia-a-dia, tinha um prazer enorme nesse convívio e sempre alguma coisa a absorver deste homem que era uma esponja. Ele filtrava o mundo, filtrava saberes, as emoções e as ideias que são do nosso tempo e do nosso povo", disse.
Testemunhando que Eduardo Lourenço "influenciou todo o pensamento português e até muita da elite nacional, seja a intelectual e política", falou também da ideia que o ensaísta tinha do seu país.
"A ideia de Portugal, a ideia do que nós somos ou temos sido ao longo da história, de um Portugal futuro, democrático, plural, aberto ao mundo, mas também ainda um pouco fechado sobre si mesmo, pequenino. Essas ideias correram e correm, mas o que interessa é o que ele soube retirar de alguns dos nossos melhores pensadores e dos melhores fenómenos da nossa história, ele soube sempre estar na vanguarda do que se impõe fazer ou do que é preciso pôr a circular, sempre em favor de Portugal", assinalou.
Professor, filósofo, escritor, crítico literário, ensaísta, interventor cívico, várias vezes galardoado e distinguido, Eduardo Lourenço foi um dos pensadores mais proeminentes da cultura portuguesa.
Conselheiro de Estado, ex-administrador não executivo da Fundação Calouste Gulbenkian, lecionou em diversas universidades, de Coimbra a Brasília, passando por Hamburgo, Heidelberg, Montpellier, Grenoble e Nice.
Eduardo Lourenço Faria nasceu em 23 de maio de 1923, em S. Pedro do Rio Seco, no concelho de Almeida, no distrito da Guarda, e morreu hoje, em Lisboa, aos 97 anos.
Prémio Camões e Prémio Pessoa, recebeu também o Prémio Europeu de Ensaio Charles Veillon, o Prémio da Academia Francesa, e foi agraciado com as Grã-Cruz da Ordem de Sant'Iago da Espada da Ordem do Infante D. Henrique e da Ordem da Liberdade. Foi ainda nomeado Officier de la Légion d'Honneur e consagrado Doutor Honoris Causa pelas Universidades do Rio de Janeiro, Universidade de Coimbra, Universidade Nova de Lisboa e Universidade de Bolonha.
Autor de mais de 40 títulos, que testemunham "um olhar inquietante sobre a realidade", como destacaram os seus pares, tem em "Os Militares e o Poder", "Labirinto da Saudade", "Fernando, Rei da Nossa Baviera" e "Tempo e Poesia" algumas das suas principais obras.
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