Idosos encontram na aldeia social "liberdade e qualidade" para a velhice

Alguns dos idosos residentes na aldeia social de São José de Alcalar, na Mexilhoeira Grande (Portimão) encontraram naquele espaço a "qualidade e liberdade" para viverem a velhice, embora condicionada pela pandemia da covid-19.

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Lusa
22/12/2020 06:15 ‧ 22/12/2020 por Lusa

País

Aldeia Social

Construída em 1990 pelo padre jesuíta Domingos Costa, a aldeia social com 115 residentes foi edificada de raiz na freguesia da Mexilhoeira Grande, concelho de Portimão, numa área com mais de dois hectares [equivalente a dois campos de futebol] sendo composta por 52 apartamentos de tipologia T1, T2 e T3.

Inseridas em dois blocos circulares, as moradias geminadas integram um complexo "que nasceu de um sonho" do pároco para dar uma alternativa digna aos idosos com serviços de apoio, entre os quais lavandaria, refeitório, salas de convívio, serviços médicos e de enfermagem e espaços ajardinados.

Daniel da Silva Nobre, de 102 anos, e Maria Perpétua, com 95 anos, são um dos casais de idosos que habitam na aldeia de São José de Alcalar e que disseram à reportagem da agência Lusa "ter sido o local onde há 12 anos encontraram a liberdade e qualidade de vida".

"Possivelmente, não teríamos a mesma coisa num outro qualquer centro de apoio a idosos", disse Maria Perpétua.

Com os seus 95 anos, mas demonstrando uma frescura física e memória impressionantes, Maria Perpétua adiantou, sem que a deixasse interromper, que a decisão de ir viver para a aldeia de Alcalar partiu do marido, há cerca de 15 anos.

"Depois de uma vida de trabalho no campo, na zona do Vidigal, na Mexilhoeira Grande, o meu marido disse para nos inscrevermos, pois o melhor era virmos para o centro do senhor padre, em vez de irmos para um centro onde ficava preso e que não ia gostar", disse Maria Perpétua.

De acordo com o casal, que ocupa uma moradia de tipologia T1, ali, na aldeia, encontraram a forma ideal de continuarem as suas vidas, embora exista "sempre a saudade da antiga casinha".

"Aqui estamos à vontade, mas tenho pena da minha casinha, lembro-me da minha casinha, sonho que estou lá, mas é assim a vida", disse conformada com a mudança.

Contudo, embora refira várias vezes "as saudades da casinha" onde habitou durante décadas, em Alcalar mantêm igualmente um espaço "acolhedor com vários objetos, recordações de uma vida".

"Aqui também tenho uma casinha, um quarto e uma salinha com cozinha para fazer os meus cozinhados", explicou Maria Perpétua, enquanto apontava para o presépio natalício instalado na sala.

"Vê, posso ter as minhas coisinhas, fiz o presépio à maneira antiga, com o trigo e tenho também algumas recordações, como esta fotografia com o burro em que transportava as coisas que ia vender à praça", referiu exibindo a fotografia já amarelada pelo tempo.

O marido, Daniel da Silva Nobre, como fez questão de dizer que se chamava, referiu que após terem feito a inscrição esperaram "cerca de três anos para conseguirem uma casa na aldeia de São José de Alcalar".

Embora a liberdade para se deslocarem para onde quisessem e pudessem, nunca tenha sido posta em causa pelos funcionários da aldeia, "é coisa que hoje em dia não é a mesma", referiu Daniel da Silva Nobre.

"Agora, por causa desta doença, não temos a mesma liberdade, mas antes íamos a Portimão onde tenho família, íamos para onde quiséssemos. Apanhava aqui o vai-vem [transportes urbanos de Portimão] e dávamos uma voltinha, mas agora não se pode", lamenta Maria Perpétua.

A pandemia da covid-19 condicionou também as visitas dos familiares e o contacto dos moradores entre si na aldeia o que, para o casal, "é uma coisa má, porque os familiares podem fazer visitas, mas apenas com marcação da hora".

"Antes da doença [covid19] íamos visitar as pessoas amigas a casa e também vinham aqui à nossa casa, mas agora conversa-se quando vamos buscar o comer, ali acima", disse Maria Perpétua apontando para o refeitório social da aldeia situado a cerca de uma dezena de metros da habitação.

Daniel da Silva Nobre, a cinco meses de completar 103 anos, e Maria Perpétua que no mesmo mês do marido completa 96 anos, desejam apenas que "a pandemia passe o mais rápido possível para que possam ter "mais vezes a visita da família, dar mais passeios e conviver mais com os outros habitantes da aldeia".

 

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