"Nunca vi tantas pessoas morrerem num só turno de 12 horas"

Ricardo Batista Leite fez uma partilha nas redes sociais após ter ter estado a trabalhar como médico voluntário no 'Covidário' do serviço de urgência do Hospital de Cascais. "A dor e o sofrimento são indiscritíveis".

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© Reprodução Facebook / Ricardo Batista Leite

Notícias Ao Minuto
18/01/2021 08:27 ‧ 18/01/2021 por Notícias Ao Minuto

País

Ricardo Batista Leite

Ricardo Batista Leite, deputado do PSD e médico, esteve, este sábado, a trabalhar como voluntário no'Covidário' do serviço de urgência do Hospital de Cascais e, um dia depois da "enorme frustração e angústia", relatou nas redes sociais a forma como o dia correu, face às enormes dificuldades que a pandemia coloca aos profissionais de saúde e aos portugueses.

"Estive este sábado mais uma vez como médico voluntário no serviço de urgência do Hospital de Cascais – mais especificamente no chamado ‘Covidário’ que dá resposta aos doentes e suspeitos Covid-19. Nunca vi tantas pessoas morrerem num só turno de 12 horas. A dor e o sofrimento são indiscritíveis", começa por contar Batista Leite.

O médico revelou que os profissionais sentem "a sensação de impotência por não podermos fazer mais". E sublinhou a realidade do que se passa no interior da Unidade Hospitalar: "Vi uma colega médica a chorar depois de sair do Covidário mais de 5 horas depois do término do seu turno. Física e psicologicamente esgotada. Cada vez que se estabiliza um doente, havia já mais 3 ou 4 doentes instáveis a entrar pela porta dentro. Vi uma enfermeira praticamente a não conseguir respirar ao tirar o fato de proteção depois de horas infindáveis junto dos doentes. Perguntei-lhe se estava bem e ela limitou-se a acenar com a cabeça enquanto olhava para mim com olhos encarnados antes de simplesmente ficar a olhar para o chão".

"Sem vagas nos Cuidados Intensivos e a ter de gerir com pinças as poucas vagas de enfermaria, ventilamos os doentes ali, em pleno serviço de urgência. Alguns doentes com ventilações invasivas… Um cenário de guerra. Os doentes menos graves que aguardam pelo teste Covid assistem em direto a muito disto… o espaço é demasiado pequeno para tantas dezenas de doentes. E a cada hora chegam mais doentes. É preciso estabelecer prioridades. O cenário é de catástrofe e exige comando e controlo", acrescentou ainda o deputado na partilha no Facebook.

Continuou Batista Leiteque "não se conseguem acompanhar todos os doentes a todo o tempo. Um doente de cada vez". "Fazem-se escolhas tão difíceis sobre quem tem maior probabilidade de morrer, faça-se o que se fizer. É devastador ver equipas de médicos forçados a escolher quem são os doentes com maior probabilidade de viver para os poder assumir como prioritários. Estamos em pleno campo de batalha no qual as emoções têm de ficar de lado… mas na realidade ficam apenas recalcadas. Chora-se quando se chega finalmente ao carro no final do turno, ou a casa. Ali no Covidário o foco é necessário e absoluto".

E as dificuldades não se ficam por aqui. Escreveu o político que, durante este sábado, assistiu "a uma colega médica que esteve durante mais de uma hora a ligar para familiares de doentes que estavam sob a sua responsabilidade e que acabaram por falecer num espaço tão curto de tempo, apesar de todos os esforços". "Ouvimos a frustração e os choros dos filhos e netos. Compreende-se a dor pela impossibilidade de dizerem adeus… por terem visto o pai, a mãe, a avó ou o avô, pela última vez quando entraram na ambulância ou pela porta do hospital poucas horas antes", frisou.

"O cenário é de guerra e estamos a perder. Está na hora de dizer basta".

Por fim, o deputado do PSDdeixou "cinco coisas" que teremos de fazer de "imediato": "Não esperar 15 dias. Decidir mudar de imediato as medidas governamentais e determinar um confinamento ‘absoluto’ durante 3 semanas para depois ser reavaliado"; "Mobilizar todos os meios de saúde disponíveis no país para as próximas semanas"; "Comunicar de forma clara, transparente e diária com o país sobre a gravidade da situação e sobre o que se espera de cada cidadão"; "Preparar desde já o momento em que se levantarão as medidas restritivas de modo a evitar um novo aumento de casos e futuros confinamentos"; e "Usar o facto de Portugal ter a presidência do conselho da União Europeia para exigir uma renegociação das vacinas Covid-19 de modo a acelerar o ritmo de vacinação".

Veja, abaixo, a partilha de Ricardo Batista Leite:

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