Luís Dias continua em frente ao palácio de Belém, em protesto contra a burocracia e a lentidão de uma resposta do Estado português. O empresário completa, este domingo, 28 dias de greve de fome devido a um processo de pedido de fundos comunitários que dura há já vários anos.
"A solução do Governo para isto parece ser estarem-me a preparar o funeral. Vou ter de pensar. Não é suposto um governo agir assim. Claramente, não querem ver o meu bem, querem ver-se livres de mim. Por isso, vou ter de pensar", afirmou, emocionado, o empresário, em declarações à RTP.
Nesta greve, Luís Dias tem contado com o apoio da associação Transparência e Integridade que defende que este caso representa a má gestão dos fundos comunitários em Portugal.
"O Governo ainda hoje veio dizer que não reconhece estes prejuízos e, ao atirar a questão para uma litigância num tribunal administrativo que qualquer decisão que venha a tomar será tardia e completamente improdutiva para estas pessoas, estamos, obviamente, perante um ato de má fé. O que isto nos revela é que há coisas estruturalmente erradas na gestão dos fundos comunitários e especificamente dos fundos agrícolas. Há denúncias de corrupção na atribuição de fundos agrícolas desde pelo menos 2014", apontou também à estação pública, o ex-presidente da associação Transparência e Integridade, João Paulo Batalha, que esteve hoje com Luís Dias, em Belém.
Esta manhã, Luís Dias recebeu também a visita da ex-eurodeputada Ana Gomes, que apelou ao agricultor para que interrompa a greve de fome.
"Aconselhei o Luís a parar. Não quero vê-lo degradar ainda mais a sua situação física. Já foi algumas vezes ao hospital e eu penso que nada justifica que ele ponha ainda mais em causa a sua saúde", disse aos jornalistas.
Sentado na relva do jardim e com ar abatido, Luís Dias disse aos jornalistas que vai ponderar o conselho da candidata à presidência da República nas eleições de 2020.
"Eu pessoalmente estou triste por todos nós, pelo Governo que é do meu partido e que não teve a compaixão e se enreda em justificações burocráticas para não olhar para um caso que é de justiça", aponta Ana Gomes.
Para a ex-eurodeputada, Luís Dias está a "ser vítima de uma retaliação" por parte do Ministério da Agricultura, uma vez que "denunciou irregularidades cometidas pelo DRAPC.
História de Luís Dias começa em 2015
A história de Luís Dias, segundo explica o jornal Público, começa em 2015, quando o agricultor apresentou junto da Direção Regional de Agricultura e Pescas do Centro (DRAPC) uma candidatura para ajudas financeiras para avançar com uma exploração de amoras na Quinta da Zebreira, em Castelo Branco.
A candidatura viria a ser recusada por, segundo o DRAPC, não existirem garantias bancárias.
O agricultor recorreu ao Tribunal de Contas Europeu, que lhe deu razão, afirmando que as garantias bancárias não lhe podiam ser exigidas.
Em 2017, após o mau tempo ter destruído a sua exploração, voltou a pedir ajuda à DRAPC e verbas para compensar os prejuízos pela intempérie, mas o apoio voltou a ser recusado.
Dois anos depois, Luís Dias recorreu à provedora de Justiça e, nessa altura, o Ministério da Agricultura considerou num despacho que a Quinta da Zebreira poderia ter acesso a verbas do Estado, mas nunca efetuou qualquer pagamento.
Perante esta situação, o agricultor exige uma indemnização, mas até agora o Governo só aceitou realizar um inquérito, não apresentando prazos.
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