Aliança Evangélica comemora centenário em fase de transformação

A comemorar o centenário da sua primeira sessão plenária, ocorrida em Lisboa em 14 de novembro de 1921, a Aliança Evangélica Portuguesa (AEP) congrega atualmente mais de 700 comunidades locais de cristãos que se reclamam "herdeiros da Reforma Protestante".

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Lusa
19/12/2021 06:23 ‧ 19/12/2021 por Lusa

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Presidida por António Calaim, médico de 68 anos, pastor na Igreja Evangélica de Sintra, a AEP está numa fase de transformação, pretendendo passar de "chapéu de chuva" sob o qual são desenvolvidas ações em prol dos evangélicos portugueses, para "palco" onde essas ações se desenrolem.

"[A AEP] é vista muitas vezes como um chapéu de chuva. Eu creio que a aliança deverá ser muito mais como um palco, onde nós exercemos o nosso ministério, interligando e unindo os diferentes evangélicos. O protestantismo, o evangelicalismo tem um grande problema que é o divisionismo, que é o denominacionismo, que é a separação de igrejas e de diferentes comunidades", admite António Calaim.

"Sabemos também que juntos podemos fazer mais do que isoladamente e separadamente e influenciar e sermos os canais com as nossas autoridades no cumprir da nossa função", acrescenta o atual líder da Aliança Evangélica, entidade que começou, há cem anos, por congregar pastores e missionários que viviam em Portugal, "um pouco à imagem daquilo que já que estava a acontecer em Inglaterra há cerca de 50 anos".

"Os vários pastores e missionários passaram a reunir para orar em conjunto, para promoverem a oração no espírito de unidade e, também, para tratar de assuntos comuns que os preocupavam e para acabarem por ter uma voz perante as autoridades civis de então. Essa voz foi conseguida, teve altos e baixos, teve períodos muito complicados (...), mas especialmente a partir dos anos 80 houve uma grande mudança por causa da Lei de Liberdade Religiosa", recorda António Calaim, destacando o papel desempenhado na preparação desta lei pelo conselheiro José Dias Bravo, antigo presidente da AEP e vice-procurador-geral da República, que morreu em 2003.

Num país onde a Igreja Católica é a confissão maioritária, os evangélicos tiveram um crescimento acentuado no pós-25 de Abril, com a chegada de muitos portugueses oriundos das antigas colónias.

"O 25 de Abril e o retorno, ou o refúgio que tantos encontraram aqui em Portugal, teve uma grande importância para a Aliança Evangélica. Numa coisa muito simples, por exemplo, com a necessidade premente, a fome e a necessidade de higiene e de roupas e tudo mais. Nós tivemos uma boa ajuda, de um modo particular da Aliança Evangélica holandesa, que nos forneceu contentores, carregamentos (...) e também alguma importância financeira. Isso deu origem a que (...) pudéssemos ter comprado as nossas instalações", diz António Calaim.

Este 'boom' tem continuado, nos últimos anos, com a chegada de evangélicos de países da América Latina, nomeadamente do Brasil, e não tanto pela "conversão" de fiéis de outras confissões, como a Igreja Católica.

"Nós não estamos tão interessados e tão preocupados que as pessoas se convertam do catolicismo ao protestantismo ou ao evangelicalismo. Não é isso, Nós queremos é que as pessoas se convertam a Cristo, porque o nosso modelo é a pessoa de Cristo. É isto que nós queremos. Se somos chamados cristãos é porque queremos ser pequenos Cristos", adianta o presidente da AEP.

Com cerca de 2.000 salas de culto abertas em todo o país, abrangendo cerca de meio milhão de fiéis, também as igrejas evangélicas se deparam com a falta de vocações.

"A falta de vocações é algo que existe desde o princípio. Jesus Cristo diz: 'Olhai para os campos e vede, poucos são os ceifeiros'. Isto é algo com que nós lidamos em todas as igrejas, em todas as denominações, em todas as comunidades", reconhece António Calaim, que foi "desde o início ensinado a viver e exercer o ministério" de forma a conciliá-lo com o exercício da sua profissão de médico.

Segundo o líder da Aliança Evangélica, "este continua a ser um grande modelo".

A terminar o seu segundo mandato como presidente da AEP, António Calaim manifesta orgulho no legado que deixa, e que se consubstancia, desde logo, na constituição da Eunoia, federação das entidades sociais cristãs evangélicas, e na assinatura do protocolo para a promoção das ecoigrejas.

Quanto à Eunoia, conta já com mais de 30 instituições filiadas -- das cerca de 100 que existem ligadas ao movimento evangélico -- e, segundo António Calaim, "não vem substituir-se à CNIS -- Confederação Nacional de Instituições de Solidariedade", onde muitas das instituições evangélicas também estão presentes.

"Achámos que deveríamos ter alguma expressão própria, deveríamos estar juntos, por um lado porque temos uma mesma fé - não para arranjamos uma cápsula, nem uma redoma, mas para nos podermos ajudar uns aos outros", explica.

Entretanto, até 23 de abril de 2022, António Calaim vai continuar a dar expressão ao centenário da Aliança a que preside. As comemorações vão levar uma exposição itinerante a várias cidades do país, mostrando o percurso da AEP, e deverão terminar com um evento festivo, para o qual esperam contar com a presença do secretário executivo da Aliança Evangélica Mundial e representantes das comunidades evangélicas dos Países de Língua Portuguesa.

Um livro sobre os 100 anos da AEP e uma medalha comemorativa serão editados durante o primeiro trimestre de 2022.

Leia Também: "É importantíssimo" saber se há crimes semelhantes na Igreja em Portugal

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