'Adolescentes', um livro-ferramenta para lidar com a nova geração
A investigadora Margarida Gaspar de Matos defende que a maioria dos jovens vão sair da pandemia sem ajudas e no livro "Adolescentes" dá ferramentas a pais e professores para lidarem de forma mais tranquila com esta geração.
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País Literatura
Em declarações à Lusa, a psicóloga clínica diz que é preciso ouvir os jovens e criar uma estrutura que lhes permita concretizar as suas ideias, para que abandonem a apatia, aprendam a viver com a incerteza e recuperem o entusiasmo.
Considera que 80% dos jovens vão sair da pandemia sozinhos, sem ajudas, e lembra que esta geração "já tinha apanhado" com a recessão económica, confessando que os achou mais apáticos nessa altura.
"Confesso que os achei mais apáticos a seguir à recessão económica do que agora. Também a recessão económica clivou muito a sociedade, mulheres e homens, ricos e pobres, novos e velhos, ficou tudo muito clivado. Ao passo que esta pandemia juntou as pessoas", explicou à Lusa.
No livro "Adolescentes", editado pela Oficina do Livro e que é lançado na quarta-feira no El Corte Inglês, em Lisboa, Margarida Gaspar de Matos também tem conselhos para pais e professores, não para saber como lidar com jovens, mas para cuidarem da sua própria saúde mental e do seu bem-estar.
"Um bocadinho de egoísmo é muito bom para conseguirmos ajudar os outros. Se nos estampamos a ajudar os outros e não pensamos em nós um bocado, não sobra para ninguém", descreve.
Em resposta à Lusa, a investigadora explicou a dificuldade de escrever mais um livro sobre jovens, evitando a repetição de ideias e, num trabalho atravessado por uma pandemia, a de encontrar um resultado com informações que não ficassem ultrapassadas nos meses seguintes.
A psicóloga clínica e professora catedrática da Universidade de Lisboa na Faculdade de Motricidade Humana contou que partiu de 'teasers' lançados por especialistas, a quem pediu "quatro linhas de desafio", para construir a narrativa deste livro, que tem ainda testemunhos de adolescentes e diversos dados das mais recentes investigações internacionais sobre a juventude.
A autora é da opinião que os jovens "não estão à espera que os ajudem", que a maior parte vai sair desta pandemia "sozinhos e com organizações autónomas" e que cabe aos adultos "permitir que isso aconteça".
"Cerca de 80% vão rapidamente restabelecer-se e virar a página, como fizeram os da segunda guerra e os do 25 de abril. Os que ficaram com algumas marcas mais negativas precisam obviamente de ser ajudados, e as políticas públicas, professores e pais farão um esforço nesse sentido. Os outros têm de agora recomeçar a reorganizar-se entre si para voltar, por exemplo, às questões climáticas, que estavam tão acesas antes da pandemia e agora quase que não damos por elas", afirma.
Os jovens, defende, "têm de aprender a viver tranquilamente com a incerteza e com a mudança permanente", senão "é uma geração que vai ficar muito inquieta".
"Sem essa ajuda para conseguir viver tranquilamente com a mudança tendem a achar que não são capazes e a desmobilizar. E vejo muitos miúdos desmobilizados em relação à vida, preferem ficar na cama do que irem passear e fazer mais do mesmo do que ter experiências novas, o que não é geracional", alerta.
No livro, a investigadora chama atenção para a necessidade de repensar a escola com urgência, para melhor aproveitar competências e reganhar o entusiasmo típico da juventude.
"É preciso serem valorizados por terem ideias... se nós tivermos uma escola onde cada menino que tem uma ideia é o menino do professor não se vai a lado nenhum", desabafa.
Lembra igualmente que os jovens hoje têm "outra visão das questões da religião, como está não lhes serve, e dos partidos, pois como estão também não lhes servem", assim como outra visão da escola.
"Eles próprios estão a começar a evoluir nas alternativas e o que se pode fazer é ajudá-los a ser proativos e a transformar a iniciativa em mudança. É pedir alternativas, ver com eles o que se pode mudar", afirma.
Defende ainda que "é preciso criar uma estrutura para que as suas inovações tenham possibilidade de andar para a frente".
"É preciso outra narrativa que não seja a dos partidos (...), a que eu chamo de Democracia 3.0", afirmou, insistindo: "Outra forma de eles participarem e serem enquadrados, pois se a participação não está próxima das decisões, não tem futuro."
No livro, lembra as alterações da pandemia, sobretudo dos períodos de confinamento - nas famílias, nos encontros com os amigos, no lazer, no sono, na alimentação e na atividade física -, e toda a influência que teve na saúde mental dos jovens.
Aliás, para estudar o impacto da pandemia na saúde mental dos jovens, Margarida Gaspar de Matos está a desenvolver, para o Ministério da Educação, um inquérito/investigação nas escolas, que deverá ter os primeiros resultados no mês de abril.
A investigadora sublinha ainda a importância do diálogo intergeracional e deixa desafios para pais, avós e professores, ajudando-os a gerir emoções sob a forma de um semáforo, sugerindo que ativem mais vezes as cores verde (desafio) e azul (serenidade) e menos o vermelho (medo).
No final do livro, sublinha o grande desafio de se encontrar o "meio termo" e escreve: "O grande desafio é estar com eles e ajudá-los na sua vida, sem querermos viver a sua vida por eles, e sem decidirmos deixar de viver a nossa vida por eles".
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