"Crónicas -- Comunidades, Emigração e Lusofonia" é o nome da obra, que será lançada no próximo dia 22, na qual o autor destaca "o empreendedorismo, a resiliência, a solidariedade das comunidades portuguesas, a riqueza do movimento associativo, as suas enormes potencialidades culturais, económicas e políticas", segundo destacou à agência Lusa.
No livro são ainda apontadas "as dificuldades que perpassam naturalmente as várias gerações", disse.
Sobre este aspeto, Daniel Bastos considerou que, no caso das gerações mais velhas, a questão da solidão e da doença são as que afetam mais estes portugueses, sobretudo nestes períodos de crise.
Essa solidão, que na opinião do historiador se deve ao facto de esses emigrantes estarem familiarmente desamparados, ou mesmo institucionalizados, "coloca claramente um problema complexo, sobretudo às gerações mais velhas".
E dá o exemplo da comunidade na Venezuela, "fruto da crise socioeconómica" que este país atravessa há vários anos e que se agravou.
Daniel Bastos atribuiu à crise que afetou o movimento associativo - que teve de fechar as portas durante a pandemia de covid-19, perdendo assim o rendimento das contribuições de que precisavam para estar em funcionamento -- parte do agravamento da situação destes emigrantes mais antigos.
Isto porque muitas destas associações asseguravam o acompanhamento dos compatriotas, evitando assim o seu isolamento e minimizando o impacto das suas doenças.
Estas associações deparam-se ainda com dificuldades em captar ou atrair os lusodescendentes, o que põe em causa a sua sobrevivência a curto prazo, acrescentou.
Daniel Bastos defendeu iniciativas como a que está a nascer em Toronto, Canadá, em que a comunidade luso-canadiana está a construir um lar da terceira idade, direcionado precisamente para os compatriotas.
Sobre a evolução da emigração portuguesa, o historiador refere que "Portugal é um país de imigrantes" e "continua a ter milhares de portugueses que procuram o retorno da procura de melhores condições de vida. A questão do emprego continua a ser sempre o impulso decisivo na hora de partir".
"A verdade é que também temos conseguido, nos últimos anos, ser um país que tem atraído imigrantes, que tem fixado população estrangeira no seu território, que tem dado um contributo decisivo para o nosso desenvolvimento e nos permite, por via disso, combater ou procurar diluir o envelhecimento da população e contribui para o desenvolvimento e o crescimento económico do país", indicou.
Sobre um eventual regresso dos emigrantes portugueses ao país de origem, o historiador acredita que será possível "em algumas situações, daqueles que têm retaguarda familiar cá [Portugal]".
Contudo, em relação às comunidades portuguesas mais atingidas por problemas de natureza económica, como no caso da Venezuela, o historiador não vê "grandes condições para esse regresso ou retorno definitivo".
"Vejo, sim, o espírito de solidariedade e entreajuda, sobretudo daqueles que têm mais possibilidades, para apoiarem e ajudarem nos territórios de acolhimento os nossos emigrantes", afirmou.
Para Daniel Bastos, o primeiro grande desafio que se coloca aos emigrantes portugueses passa pela "reestruturação do movimento associativo".
"Penso que há um grande desafio, na maioria das comunidades portuguesas, de criar espaços únicos que alberguem os vários meios associativos, uma espécie de casa comum que permita diluir diferenças e potencializar os parcos recursos de cada um cada um deles", adiantou.
O novo livro de Daniel Bastos, que conta com um prefácio escrito por Marques Mendes, tem capa assinada pelo pintor Orlando Pompeu.
O historiador é atualmente consultor do Museu das Migrações e das Comunidades, sediado em Fafe, e da rede museológica virtual das comunidades portuguesas, instituída pelo Governo.
É da sua autoria os livros "O olhar de compromisso com os filhos dos Grandes Descobridores" e "Dias de Liberdade em Portugal", que Daniel Bastos publicou com Gérald Bloncourt, fotógrafo que imortalizou a emigração portuguesa, falecido em 2018, e que será homenageado no dia da apresentação da obra, na Sociedade de Geografia de Lisboa.
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