"Estou grato pela oportunidade" de falar ao povo português "neste tempo complicado". Foi deste modo que Volodymyr Zelensky iniciou a sua declaração no Parlamento nacional, onde evocou o 25 de Abril como momento histórico para apelar ao sentido nacional: "Vocês sabem o que estamos a sentir".
O presidente ucraniano seguiu a intervenção relatando os massacres bárbaros que as tropas russas deixaram nas cidades ucranianas por onde passaram, afirmando que "as pessoas foram violadas e torturadas". Em Bucha, destacou, "os russos não tentaram esconder os corpos".
"Os russos mataram para se divertir", vincou ainda o chefe de Estado ucraniano, sublinhando que estão, na Ucrânia, a lutar "pela nossa independência, mas também pela nossa sobrevivência". E contou um episódio onde as pessoas foram "obrigadas a cantar o hino da Rússia".
Zelensky frisou ainda, na mesma intervenção, que pelo menos 500 mil ucranianos foram deportadas para a Rússia, "duas vezes a população do Porto". Segundo este, "os deportados não têm direito a estabelecer ligação com as famílias, eles estão a ser deportados para as regiões mais longínquas da Rússia", onde "fizeram campos especiais para que essas pessoas fossem divididas, alguns são mortos, as raparigas são violadas".
Quando aos refugiados desta guerra, fez outro paralelismo com Portugal: "Imaginem se Portugal todo abandonasse o país".
Já "Mariupol - que é tão grande quanto Lisboa - está totalmente destruída" e "nenhuma casa está em pé", confirmou o presidente ucraniano: "Os russos fizeram de Mariupol um inferno", acrescentando que foram mortas pelo menos "10 mil pessoas", sendo que os russos fizeram "crematórios móveis" de modo a conseguirem destruir as "provas".
Pede armamento pesado e o reforço das sanções à Rússia
Zelensky pediu também "mais sanções" e "apoio militar" para "desocupar as nossas cidades". "Peço aceleração e reforço das sanções e também apoio militar, armamento", afirmou, pedindo especificamente "armamento pesado".
"Pedimos tanques, armamento antinavio, tudo com o que possam ajudar. Apelo a vós para nos conseguirem ajudar à aceleração e reforço das sanções [à Rússia] e também ao apoio militar", afirmou, frisando que a Rússia ter começado a "ocupação da Ucrânia é apenas o primeiro passo para conseguir controlar o leste da Europa".
"O vosso povo vai celebrar o aniversário da Revolução dos Cravos"
O chefe de Estado ucraniano recorreu ainda à Revolução dos Cravos e destacou: "O vosso povo vai daqui a nada celebrar o aniversário da Revolução dos Cravos que também vos libertou da ditadura, vocês sabem perfeitamente o que nós estamos a sentir".
E acrescentou: "Vocês sabem o que traz a morte e a ditadura para a Ucrânia. E depois da Ucrânia, eles vão tentar fazer isto na Ucrânia, na Moldávia, na Geórgia, nos países Bálticos, em outros países".
Dirigindo-se aos portugueses, Volodymyr Zelensky agradeceu por "todo o apoio" que tem sido dado à Ucrânia. "Espero pela vossa posição para que defendam o embargo do petróleo da Rússia na UE e espero que se juntem a outros países para que o sistema bancário da Rússia seja bloqueado".
"Sei que os nossos povos se compreendem", advogou ainda, pedindo que lutemos "contra a propaganda russa". "Acredito que o povo e os políticos portugueses apoiam o nosso país para estar, junto com vocês, na União Europeia. Os civilizados devem apoiar os civilizados e acredito que nos vão apoiar", terminou. "Estamos o mais a leste e vocês o mais a oeste, mas ambos sabemos que os valores que defendemos são iguais", frisou ainda.
O discurso de Zelensky, que teve 15 minutos de duração, foi aplaudido de pé por todos os presentes no hemiciclo.
Recorde-se que o presidente da Ucrânia, discursou esta quinta-feira à tarde na Assembleia da República (AR), numa sessão solene onde marcaram presença Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República, e António Costa, primeiro-ministro (apesar de não discursarem). Já Augusto Santos Silva, presidente do Parlamento, fez uma intervenção.
O PCP foi a grande ausência na AR, não tendo assistido à declaração do presidente ucraniano que se tornou, hoje, o primeiro chefe de Estado de um país a intervir no Parlamento nacional por videoconferência.
Volodymyr Zelensky discursou numa altura em que as relações bilaterais estão marcadas pelo apoio de Portugal ao regime de Kyiv, mas também por críticas à posição portuguesa quanto à adesão da Ucrânia à UE.
[Notícia atualizada às 17h47]
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