Ornelas diz que recebeu voto de confiança do Papa após falar de denúncia

O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, o bispo José Ornelas, disse na quarta-feira que recebeu um voto de confiança do papa Francisco, após lhe ter contado sobre a denúncia enviada ao Ministério Público relativa ao alegado encobrimento de abusos sexuais.

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Lusa
06/10/2022 06:26 ‧ 06/10/2022 por Lusa

País

Abusos sexuais

"Mostrei a notícia ao papa e ele disse-me: 'Olha, tu tens de saber o que fizeste e como fazes. Se há alguma coisa, tu pedes desculpa, mas não vais deixar de fazer aquilo que fazes'", contou o bispo da diocese de Leiria-Fátima, em entrevista à RTP.

O Ministério Público (MP) confirmou, no sábado, estar a investigar o bispo José Ornelas, presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, por alegado encobrimento de abusos sexuais, revelando que já houve uma investigação com possíveis ligações a este caso em 2011.

"Confirma-se a receção de participação provinda da Presidência da República. A mesma foi transmitida ao Ministério Público de Braga e ao DIAP [Departamento de Investigação e Ação Penal] de Lisboa para análise", esclareceu a Procuradoria-Geral da República (PGR) numa resposta enviada à agência Lusa, na sequência da notícia avançada pelo Público.

Além da investigação iniciada no final de setembro pelo DIAP de Lisboa, a PGR adiantou também que já existiu um inquérito em 2011 com possíveis ligações a este caso, mas remeteu mais informações para a consulta do respetivo processo.

Em comunicado, a Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) assegurou que o seu presidente "deu indicações" em 2011 para que suspeitas de abuso sobre crianças num orfanato em Moçambique fossem investigadas, não tendo sido encontradas evidências de "possíveis abusos".

Ainda a propósito do encontro com o papa Francisco, ocorrido no mesmo dia em que foi divulgada a notícia sobre a investigação do MP, José Ornelas disse na entrevista que o chefe de Estado do Vaticano elogiou o trabalho da Igreja em Portugal.

O bispo reiterou também que fez "tudo aquilo que podia fazer" quando recebeu as denúncias sobre alegados abusos em Moçambique e que não sente "culpa nenhuma", rejeitando qualquer possibilidade de resignar.

"Não tenho razão nenhuma. Nestas coisas deve-se deixar trabalhar as instituições competentes", sublinhou, adiantando que ainda não recebeu qualquer notificação do Ministério Público.

José Ornelas, de 68 anos, preside à CEP desde 16 de junho de 2020 e é bispo de Leiria-Fátima desde 13 de março deste ano. Ocupou o cargo de superior geral dos Dehonianos entre 27 de maio de 2003 e 06 de junho de 2015.

Especialista em Ciências Bíblicas, doutorado em Teologia Bíblica pela Universidade Católica Portuguesa, José Ornelas chegou a fazer formação missionária em Moçambique.

Foi José Ornelas que, no final de 2021, anunciou a criação de uma comissão independente para o estudo dos abusos na Igreja Católica em Portugal, que é coordenada pelo pedopsiquiatra Pedro Strecht e que deverá apresentar as conclusões do seu trabalho em janeiro do próximo ano.

Leia Também: Bispo Ornelas não pode ser "cúmplice" sem prova do crime, diz penalista

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