Nascido em 1936, em Formiga, Minas Gerais, Brasil, Silviano Santiago mudou-se com dez anos para Belo Horizonte e, aos 18 anos, começou a escrever para uma revista de cinema, além de ter ajudado a idealizar e publicar a revista Complemento.
Já no Rio de Janeiro, formou-se em Letras Neolatinas e especializou-se em Literatura Francesa, tendo defendido uma tese de doutoramento na Universidade de Paris, em 1968, sobre "Os Moedeiros Falsos", de André Gide.
Já em Paris, mas ainda antes de se doutorar, candidatou-se ao lugar de professor de literatura brasileira na Universidade do Novo México, em Albuquerque, Estados Unidos, para onde se mudou em 1962.
Numa entrevista concedida à revista Pesquisa, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, Silviano Santiago contou que, nessa altura, com menos de 30 anos, começou a dar aulas de literatura brasileira e portuguesa, para as quais não estava minimamente preparado, pois a sua formação era em letras francesas.
Forçado a suspender o desenvolvimento da tese de doutoramento, dedicou-se a estudar e esse período da sua vida tornou-se "crucial", nas suas palavras, para o desenvolvimento de uma visão da literatura que valoriza menos o nacional.
Tendo-se formado no Brasil e em França, e sendo professor universitário nos Estados Unidos, onde conviveu com uma sociedade em transformação, observou o desenvolvimento da situação no Brasil que conduziu ao golpe militar, e acompanhou a onda de protestos em França.
Silviano Santiago disse que essas experiências definiram a sua visão da literatura brasileira, marcada "por um viés pós-colonial e, ao mesmo tempo, inclusivo".
As experiências vividas nesses três países levaram-no a questionar o facto de que a visão que tinha da literatura brasileira ignorava o período colonial, porque na formação académica aprendia-se que história literária brasileira começava no século XVIII, principalmente a partir do Romantismo, deixando de lado o período anterior.
Dessa forma, passou a propor uma leitura da história literária do Brasil a partir de um movimento de inclusão de documentos não literários, que começou com a "Carta", de Pero Vaz de Caminha (1450-1500), documento que regista as suas impressões sobre a terra que mais tarde seria o Brasil, como explicou o autor nessa entrevista.
A partir daqui, passou a incorporar documentos do período colonial brasileiro nas análises literárias, tornando-se pioneiro nesse estilo, e abrindo perspetivas de leitura de autores brasileiros a partir da literatura comparada.
Silviano Santiago passou ainda pelas Universidades de Rutgers, Toronto, Nova Iorque, Buffalo e Indiana.
No Brasil, foi catedrático da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e na Universidade Federal Fluminense.
Entre as suas várias publicações, contam-se uma antologia de prosa e verso de Ariano Suassuna e a edição comentada do romance "Iracema", de José de Alencar, as traduções de poemas de Jacques Prévert e de "Por Que Amo Barthes", de Alain Robbe-Grillet.
Em 1989, foi nomeado pelo então ministro brasileiro da Cultura como membro da Comissão Julgadora do Prémio Literário Nacional.
Em 1995, participou do II Encontro Internacional de Poetas, na Universidade de Coimbra e, no ano seguinte, participou em Toronto na conferência sobre o projeto de História da Literatura Latino-Americana.
Em 2017, publicou uma análise da obra "Grande Sertão: Veredas", de João Guimarães Rosa, intitulada "Genealogia da Ferocidade".
Por seis vezes foi vencedor do prémio Jabuti, e pelo conjunto da produção literária recebeu o prémio Machado de Assis da Academia Brasileira de Letras e o José Donoso, do Chile, segundo a editora brasileira Companhia das Letras.
Silviano Santiago foi ainda distinguido em 2015 com o Prémio Oceanos, com o romance "Mil Rosas Roubadas", do qual haveria de arrecadar, dois anos mais tarde, o segundo lugar, com "Machado", sobre Machado de Assis.
Já este ano, retirou a candidatura à Academia Brasileira de Letras, onde ocuparia o lugar deixado vago pela morte da escritora Lygia Fagundes Telles (Prémio Camões em 2005), alegando razões de "foro íntimo", como noticiou em junho a Folha de São Paulo.
Apesar de não ter qualquer obra publicada em Portugal, Silviano Santiago escreveu cerca de 30 livros, entre os quais se destacam romances como "Em liberdade", "Stella Manhattan", "Machado" e "Mil rosas roubadas".
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