"É preciso levar a sério a violência doméstica e proteger as mulheres"
A União de Mulheres Alternativa e Resposta (UMAR) homenageou hoje as 28 mulheres assassinadas este ano vítimas de violência doméstica, denunciando a "tolerância" da sociedade e a "impunidade" num crime que "é preciso levar a sério".
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País UMAR
"É preciso levar a sério o crime de violência doméstica e é preciso proteger estas mulheres", afirmou Ilda Afonso, coordenadora do centro de atendimento para vítimas de violência domestica e de género da UMAR.
A praça da Batalha, no Porto, foi esta manhã palco de uma homenagem às 28 mulheres assassinadas vítimas de violência doméstica, contabilização feita pelo Observatório de Mulheres Assassinadas (OMA), com base em notícias publicadas na comunicação social entre 01 de janeiro e 15 de novembro deste ano.
Vinte e oito boinas lilases e brancas, pousadas no chão da praça da Batalha, indicavam o nome, idade, o agressor e circunstâncias da morte de cada uma destas mulheres. À medida que as boinas iam sendo colocadas no chão, os membros da UMAR entoavam na praça o nome de cada uma das vítimas, homenageando-as simbolicamente.
"É preciso fazer alguma coisa para combatermos este crime, a violência doméstica e violência contra as mulheres", salientou, em declarações à Lusa, Ilda Afonso, desafiando a sociedade a "estar atenta" e a "não ignorar" o problema.
"Enquanto sociedade, continuamos a falhar porque não enviamos uma mensagem clara aos agressores de censura, continuamos a ser tolerantes com os agressores", observou.
Destacando que a culpa é do agressor e não da vítima, Ilda Afonso lembrou que os números de mortes por violência doméstica ou de género "não mudam".
"Não há uma diminuição. Não há uma tendência de subida, mas também não há uma diminuição. É preciso proteger estas mulheres", defendeu.
A par da denúncia da sociedade em geral, Ilda Afonso salientou ser também necessária uma maior atuação do Estado no combate a este crime e na proteção das mulheres.
"É preciso, por um lado, castigar o agressor, é preciso afastá-lo das vítimas, é preciso que haja prisão preventiva para os agressores mais perigosos, é preciso que haja vigilância eletrónica e medidas de afastamento com vigilância para que os agressores não se aproximem da vítima", referiu a coordenadora, acrescentando, no entanto, que a moldura penal acaba por ser "indiferente" para o agressor.
"É lhe indiferente se vai ficar 10, 20, ou 30 anos na cadeia, porque tomou a decisão de matar e sabe que vai para a cadeia. O importante é proteger a vítima antes de ela ser assassinada, e quando as mulheres são ameaçadas de morte, é preciso levar a sério essas ameaças, não desvalorizar", realçou.
Ilda Afonso apelou ainda a que seja assegurada proteção às vítimas nas suas casas para que "não tenham de sair" e, consequentemente, necessitar de alojamento numa casa abrigo.
Na homenagem marcaram também presença algumas vítimas de violência doméstica partilharam com os jornalistas o seu testemunho.
Relatando alguns episódios vividos, uma mãe e uma filha lembraram como foram feridas "psicologicamente por palavras e por atos" e como tiveram de sair da própria casa quando viram "a morte a chamar" por si.
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