COP15. "Precisamos de Acordo de Paris para a natureza. Com compromissos"

Proteger a biodiversidade mundial já é insuficiente e é necessário um investimento "em larga escala" no restauro da natureza, disse à Lusa Ângela Morgado diretora executiva da representação em Portugal da organização ambientalista internacional WWF.

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Lusa
04/12/2022 08:57 ‧ 04/12/2022 por Lusa

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Ambientalistas

A propósito da cimeira da ONU sobre biodiversidade (COP15), que teve uma primeira parte no ano passado na China e que vai concluir-se em Montreal, no Canadá, entre 07 e 19 de dezembro, Ângela Morgado alerta que a natureza está a desaparecer "a um ritmo sem precedentes", com a população de espécies a diminuir 69% desde 1970, segundo o último relatório da "World Wide Fund for Nature" (WWF).

Para a COP15 ser bem-sucedida, diz Ângela Morgado, tem de reverter essa tendência e agir para ter até 2030 pelo menos 30% de áreas protegidas do planeta, acrescentando: "Mas também é muito importante a parte do restauro. A nossa meta em restauro é de 30%".

"Precisamos de um Acordo de Paris para a natureza. Um acordo com significado político, um acordo com compromissos", afirma a diretora executiva da Associação Natureza Portugal, que em Portugal trabalha com a WWF, sob a sigla ANP/WWF.

Em 2015 foi aprovado por quase todos os países do mundo o Acordo de Paris, considerado o mais importante documento da luta contra o aquecimento global, que traça as metas e o que tem de ser feito para que o aumento global das temperaturas não ultrapasse os dois graus celsius (ºC) em relação à época pré-industrial, e se possível não vá além de 1,5ºC. Esse aumento é hoje já de pelo menos 1,1ºC.

O que Ângela Morgado defende é que em Montreal seja alcançado um acordo do género mas virado para a proteção da biodiversidade mundial.

A "inação já não é uma opção, precisamos mesmo de ação", sustenta a responsável nas declarações à Lusa, acrescentando que um quadro ambicioso para a COP15 passa também pela mobilização para que se reduza para metade, até 2030, a pegada mundial da produção e consumo.

Tal passa, diz, por uma "transformação comportamental acentuada" das pessoas, reduzindo o consumo de determinados alimentos e optando por outros. Ângela Morgado destaca que essa mudança passa também por outras áreas, seja a moda, a energia ou a mobilidade.

"É uma mudança a todos os níveis. Não tendo de ser radical é basicamente uma opção de consumo por produtos mais sustentáveis", explica.

Ângela Morgado frisa que a aposta no que chama "natureza positiva", além da relação que tem com a luta contra o aquecimento global, salvaguarda a saúde (dá o exemplo da pandemia de covid-19), reduz a pobreza e protege os direitos humanos (nomeadamente de comunidades indígenas).

"Quanto mais restaurarmos a natureza mais colocamos as pessoas no centro", afiança, acrescentando em jeito de alerta que "um fracasso da cimeira será devastador para as pessoas".

A COP15 deve adotar um quadro global de proteção da biodiversidade pós-2020, com uma estratégia e um roteiro global de conservação, proteção, restauração e gestão sustentável da biodiversidade e dos ecossistemas para a próxima década.

A ausência de líderes políticos tem levado observadores a considerar que tal pode pôr em causa a eficácia da COP15.

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