"A hipertensão arterial é uma doença silenciosa que, nos últimos anos, afeta cada vez mais crianças e adolescentes. Na Europa, estima-se que a prevalência da hipertensão na idade pediátrica seja de três a cinco por cento", refere a Sociedade Portuguesa de Pediatria (SPP), em vésperas do Dia Mundial da Hipertensão, que se assinala no sábado.
Em Portugal ainda não há um estudo sobre a realidade nacional, mas indicadores parcelares e regionais permitem antever que a situação portuguesa será idêntica à dos restantes países europeus, segundo disse à agência Lusa a pediatra Carla Simão.
A SPP criou já um grupo de trabalho que está a preparar um estudo nacional para avaliar a prevalência da hipertensão na população portuguesa entre os três e os 18 anos.
Este estudo será conduzido através de um inquérito e da avaliação da pressão arterial numa amostra aleatória e representativa da população em idade pediátrica.
A hipertensão nas crianças apresenta uma tendência de crescimento, sobretudo associada a problemas de obesidade ou de excesso de peso, que têm vindo a aumentar na população abaixo dos 18 anos.
Carla Simão lembra que a hipertensão é um fator de risco "importante e potencialmente reversível de doença cardiovascular e de doença renal terminal em qualquer idade", daí a importância de diagnosticar, tratar e, sobretudo, prevenir.
A prevenção deve dirigir-se essencialmente aos fatores de risco modificáveis, como a obesidade, o sedentarismo, os excessos alimentares, a privação de sono e o tabagismo.
A Sociedade de pediatria sublinha que a hipertensão não apresenta sintomas na maioria dos casos em crianças e adolescentes, sendo por isso necessária a medição regular da pressão arterial.
"As recomendações da Sociedade Europeia de Hipertensão Arterial orientam para a medição da pressão arterial a todas as crianças a partir dos três anos, em consultas de vigilância de saúde, pelo menos uma vez por ano. Esta recomendação deverá ser seguida", refere à Lusa a médica do grupo de trabalho da hipertensão em pediatria.
Segundo a Organização Mundial da Saúde, a hipertensão abaixo dos 18 anos vai continuar a aumentar e terá um agravamento progressivo até 2025.
Ao contrário do que acontece nos adultos, nas crianças não está definido um valor ou parâmetro a partir do qual se possa considerar hipertensão, estando essa avaliação sujeita a tabelas de percentis que variam de acordo com a idade e a estatura da criança.
Nos adolescentes, uma tensão sistemática acima dos 120-80 já pode ser um sinal de alerta para problemas de hipertensão.