Carlos Moedas, o presidente da Câmara de Lisboa disse, na quarta-feira, que a capital portuguesa está "extremamente preparada" para a possibilidade de um sismo como aquele que aconteceu na segunda-feira na Turquia e na Síria, inclusive com um sistema de alerta de tsunami. A resposta de João Paulo Saraiva, presidente da Associação de Proteção Civil (APROSOC), chegou hoje, em comunicado, onde considera que a afirmação do autarca é "desprovida de qualquer verdade" e "contraria aquilo que a comunidade científica vem alertando há vários anos".
"Ontem mesmo a Câmara Municipal de Lisboa levou a efeito no seu edifício n.º 25 ao Campo Grande, a sessão do ciclo de capacitação do programa RESIST de 2022 - que havia sido adiada em dezembro devido às cheias - e, uma vez mais técnicos, cientistas e população identificaram precisamente o oposto daquilo que o sr. presidente da autarquia agora afirma", adianta ainda João Paulo Saraiva na nota a que o Notícias ao Minuto teve acesso.
O responsável considera que, "de facto, é notório um esforço de preparação por parte da autarquia de Lisboa", mas "daí a poder dizer-se que face ao estado da arte e ao nível das cidades mais desenvolvidas da Europa" e que "'a cidade está extremamente preparada para' é, no mínimo, muito rebuscado".
E indica diversos pontos que diz 'justificarem' a sua posição quanto a este tema. No mesmo documento, a Associação de Proteção Civil assevera que "a capacidade de resposta de algumas unidades locais de Proteção Civil é face a um evento sísmico totalmente inócua".
Já a "adequação dos veículos de socorro em caso de sismo é etérea", uma vez que a "esmagadora maioria da frota do Regimento Sapadores Bombeiros, corporações de Bombeiros Voluntários, INEM e demais entidades que no município concorrem para as atividades de Proteção Civil não dispõe de tração adequada e, as que possuem, serão manifestamente insuficientes".
As pessoas não estão minimamente preparadas para fazer parte da solução, pelo que serão parte do problema
O quartel da Avenida D. Carlos I "ficará muito provavelmente inoperacional, e os seus meios inoperacionais, o mesmo podendo acontecer com outros quartéis que podem ruir" ou, ainda que tal não aconteça, "estão em zonas em que outros edifícios podem muito provavelmente colapsar impossibilitando os acessos rodoviários", elenca também.
Sismo? Lisboa é, "muito provavelmente, uma ilha"
João Paulo Saraiva explicita o facto de a cidade de Lisboa ser "do ponto de vista rodoviário face a um sismo, muito provavelmente, uma ilha, já que todos os acessos de rodoviários de comunicação com a cidade passam por pontes, viadutos, e túneis em alguns casos cuja construção não teve em conta o risco sísmico". É disto exemplo o viaduto Eng.º Duarte Pacheco que "está e bem a ser intervencionada para lhe conferir um reforço sísmico".
"A população de Lisboa é largamente superior aos registos da autarquia" e, garante o responsável, "ninguém sabe ao certo quantos cidadãos existem na cidade quanto mais por habitação". "As pessoas não estão minimamente preparadas para fazer parte da solução, pelo que serão parte do problema".
"A autarquia não investiu nas Unidades Locais de Proteção Civil nas freguesias, não sensibilizou os cidadãos nos bairros, não possibilitou a preparação das pessoas para a sua autoproteção e para a entreajuda. Não de forma suficiente para poder afirmar que a cidade está preparada para um sismo ou para um tsunami", considera.
"A afirmação em causa é, por isso, em nosso entender, falsa e ilusória, podendo criar uma falsa sensação de segurança onde ela não existe, sendo eventualmente por isso passível de enquadramento criminal"
Para o especialista "foi realizado, de facto, algum trabalho de qualidade", que se mostrará, contudo, "inexpressivo face à população existente em Lisboa num qualquer dia ou noite". "E deseje-se que nenhum sismo e tsunami ocorra durante as Jornadas Portuguesas da Juventude para que não venhamos a descobrir o erro crasso da sua localização, bem como as inocuidades do dispositivo planeado".
Após expressar as suas preocupações no comunicado, João Paulo Saraiva vinca ainda que "muito mais pode ser dito sobre este assunto", não podendo estar de acordo com a afirmação proferida pelo Presidente da Câmara Municipal de Lisboa: "Nem num jogo virtual se pode concluir que a cidade está preparada, quanto mais num simulador! Nenhuma cidade está suficientemente preparada para um sismo, quanto mais 'extremamente preparada'!"
"A afirmação em causa é, por isso, em nosso entender, falsa e ilusória, podendo criar uma falsa sensação de segurança onde ela não existe, sendo eventualmente por isso passível de enquadramento criminal", termina a nota.
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