A diocese de Angra informou hoje em comunicado que os dois sacerdotes, que vêm referenciados no relatório da Comissão Independente por suspeita de alegados abuso de menores, ficam "impedidos do exercício público do ministério” até ao final do processo de investigação prévia.
"Foram recebidas denúncias relativas a oito casos de alegados abusos ocorridos em sete concelhos da Região: dois nas Velas e um na Calheta, ilha de São Jorge; um no Faial; um em Angra do Heroísmo e um na Praia da Vitória, na Ilha Terceira; um no concelho das Lajes e outro em São Roque, ambos na ilha do Pico", pode ler-se.
“Estes alegados abusos terão sido cometidos entre 1973 e 2004, por pessoas diferentes, quatro delas — 3 sacerdotes e um leigo — já faleceram. Importa esclarecer que, dos quatro restantes alegados abusos, dois não foram considerados casos relevantes pela Comissão Independente ao cruzar dados entre as denuncias feitas à Comissão e a investigação histórica aos arquivos da diocese, que ocorreu no final de mês de janeiro de 2023”, acrescenta a nota.
Da lista entregue na passada sexta-feira ao Bispo diocesano pela Comissão Independente constam dois nomes, revela ainda a missiva. "Um sacerdote de São Miguel e outro da ilha Terceira. O bispo diocesano já falou com ambos e, em conjunto acordaram, que os sacerdotes em causa ficarão impedidos do exercício público do ministério até ao final do processo de investigação prévia, que já foi iniciado na Diocese e de acordo com as normas canónicas".
Igualmente seguirá a participação ao Ministério Público, prossegue a diocese, que assevera que "esta decisão não é uma assumpção de culpa dos próprios nem uma condenação por parte do Bispo diocesano".
"Depois da vergonha e do escândalo que a revelação da existência de abusos provocaram junto da sociedade, em geral, e dos cristãos em particular, é tempo de ação", apela a diocese.
Nova denúncia após divulgação de relatório
Na nota, em que a diocese garante ajuda e apoio psicológico a todas as vítimas, refere-se ainda que depois da apresentação do relatório pela Comissão Independente, e "após três anos de atividade sem qualquer denuncia", a Comissão Diocesana "já recebeu uma nova denúncia, que envolve um sacerdote de São Miguel já falecido".
"Um membro da referida Comissão encontrou-se com a vítima e disponibilizou o apoio da diocese para prosseguir este caminho de recuperação", pode ler-se.
Entretanto, também o arcebispo de Évora anunciou ter afastado um padre suspeito de abusos sexuais.
Estas iniciativas contrastam com as declarações proferidas esta terça-feira pelo bispo de Beja, e amplamente criticadas. O sacerdote sugeriu que o perdão fosse uma das hipóteses colocadas em cima da mesa no âmbito dos casos de alegados abusos sexuais no seio da Igreja Católica.
"Todos somos pecadores, todos somos limitados, todos temos falhas", atirou, em declarações à SIC Notícias, emitidas esta terça-feira, acrescentando: "Na Igreja Católica existe o perdão. Se realmente as pessoas estão arrependidas do que fizeram - fizeram penitência e repararam o mal que fizeram. Se há este novo nascimento, que o perdão nos oferece, isso é importante. Não podemos desvalorizar isso".
A Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica validou 512 dos 564 testemunhos recebidos, apontando, por extrapolação, para um número mínimo de vítimas da ordem das 4.815.
Vinte e cinco casos foram reportados ao Ministério Público, que deram origem à abertura de 15 inquéritos, dos quais nove foram já arquivados, permanecendo seis em investigação.
Estes testemunhos referem-se a casos ocorridos entre 1950 e 2022, período abrangido pelo trabalho da comissão.
[Notícia atualizada às 14h33]
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