O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), D. José Ornelas, disse, este domingo, que "respeita", mas não "concorda" com as declarações do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, sobre a Igreja Católica, no âmbito dos casos de abusos sexuais no seio da instituição.
Em declarações exclusivas à RTP, D. José Ornelas foi confrontado com o facto de Marcelo Rebelo de Sousa ter admitido "desilusão" com a CEP no que diz respeito à resposta aos casos de abusos sexuais reportados pela Comissão Independente.
"Toda a gente tem direito de se iludir ou desiludir. Respeito o Presidente da República, respeito a opinião dele, não concordo, mas respeito", disse D. José Ornelas.
O presidente da CEP defendeu ainda que a Igreja tem tido iniciativa, rejeitando inação.
"Se alguém leu com atenção o comunicado que a gente fez, que significava um traçar de rumos, que era aquilo que era preciso naquela primeira reunião, e que, agora, já está a ter consequências", disse, defendendo que foram tomadas "providências" e que foi dada "prioridade" às vítimas.
D. José Ornelas assegurou ainda que a Igreja não quer esconder qualquer caso e que aqueles que são suspeitos e estão identificados devem ser afastados de funções, contudo, entende que este é um "trabalho que não está totalmente feito", faltando alguns dados mais sólidos para identificar os suspeitos, o que tem levado a que "algumas dioceses" tenham "dificuldades".
"Ninguém quer encobrir nada", defendeu.
Recorde-se que, em entrevista à RTP e ao Público, o chefe de Estado afirmou que "foi uma desilusão a posição da Conferência Episcopal", considerando que foi tardia e "ficou aquém em todos os pontos que eram importantes".
É de realçar que Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais contra as Crianças na Igreja Católica Portuguesa, constituída por decisão da Conferência Episcopal Portuguesa e coordenada pelo pedopsiquiatra Pedro Strecht, validou 512 testemunhos, apontando, por extrapolação, para pelo menos 4.815 vítimas.
Os testemunhos referem-se a casos ocorridos entre 1950 e 2022, o espaço temporal abrangido pelo trabalho da comissão.
A comissão entregou uma lista de alegados abusadores no ativo à Conferência Episcopal Portuguesa.
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