"O protesto dos professores faz parte da liberdade e da democracia, só os senhores jornalistas é que acham estranho que haja protestos. Faz parte da democracia", afirmou António Costa, enquanto tentava manter um diálogo com uma docente, depois da cerimónia militar do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas.
O Peso da Régua, no distrito de Vila Real, foi o palco escolhido pelo Presidente da República para as celebrações do 10 de Junho e de muitos professores que ali se manifestaram.
Após ter terminado a cerimónia militar, António Costa percorreu a pé o trajeto desde a avenida do Douro até ao local escolhido para o almoço, tendo sido sempre seguido por muitos docentes que gritavam, entre outras palavras de ordem "respeito". A mesma mensagem estava escrita nos cartazes, em alguns dos quais era também possível ler "demissão" e ver a imagem do primeiro-ministro com dois lápis nos olhos e um nariz de porco.
À chegada ao local do restaurante, a mulher do primeiro-ministro, Fernanda Tadeu, exaltou-se com alguns dos comentários dos professores em protesto. Inicialmente, António Costa pediu à mulher para não responder aos comentários, mas, depois, virou-se para trás e gritou "racista", visivelmente exaltado.
Vaiado pelos professores, o primeiro-ministro foi, no entanto, acarinhado por muitos populares que lhe disseram: "bem-vindo ao Douro", "estamos aqui para apoiá-lo" e a "Régua está consigo".
"Eu sinto-me muito bem no Douro e em todo o país", apontou, voltando a insistir que o barulho de fundo que o acompanhou "é um direito de manifestação".
"Com melhor gosto, com pior gosto, com estes cartazes um pouco racistas, mas pronto, é a vida", frisou.
Na conversa que manteve com uma docente, António Costa disse que os professores "são muito injustos".
"São muito injustos e são injustos porque estão a protestar contra um Governo que pôs fim ao congelamento da carreira", afirmou, tendo sido interrompido pela professora a quem disse: "posso falar eu? Também quero respeito".
E insistiu referindo que "pela primeira vez está com a carreira descongelada desde 2018, uma carreira que há muito tempo nunca teve tantos anos sucessivos de descongelamentos".
"Portanto nós descongelamos, mantemos a carreira descongelada e garantimos que a carreira continuará descongelada. A recuperação do tempo que foi feita foi exatamente na mesma medida que foi para as restantes carreiras, referente 70% do tempo congelado", afirmou.
Em segundo lugar, acrescentou, tendo em conta que o "descongelamento não teve o mesmo impacto nas pessoas em função da posição em que estavam nas carreiras" e, por isso, explicou, foi "criado um acelerador", onde se eliminou a quota.
Neste diálogo, António Costa foi sendo constantemente interrompido e pedindo para o deixarem falar, tentando apontar várias medidas tomadas pelo Governo relativamente à classe.
Antes ainda, com uma outra docente proveniente da Póvoa de Lanhoso, o chefe do Governo falou durante mais de 12 minutos, ouvindo as suas queixas e referindo-lhe que foi o Governo "que abriu o diálogo" e que os interlocutores são os sindicatos.
António Costa ficou, inclusive, com o contacto telefónico desta professora para combinarem uma conversa sobre as "questões pedagógicas" que também preocupam os docentes.
[Notícia atualizada às 14h47]
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