Crise nos 'media' em Portugal é fator preocupante na desinformação

A crise e fragilidade económica do setor dos 'media' em Portugal é um dos fatores de preocupação no que respeita à desinformação, conclui o estudo do observatório Iberifier, hoje divulgado.

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Lusa
21/06/2023 12:09 ‧ 21/06/2023 por Lusa

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Iberifier

 

Segundo o relatório "Análise do impacto da desinformação na política, economia, sociedade e questões de segurança, modelos de governança e boas práticas: o caso de Espanha e Portugal", a perceção da desinformação em Portugal como "ameaça externa aos equilíbrios políticos e socioeconómicos internos não é tão consistente", uma vez que "nas esferas política e de segurança cibernética não houve alarmismos até agora".

Aliás, as recomendações adotadas pelos "órgãos institucionais encarregados de prevenir e monitorizar a desinformação são tecnicamente coerentes com as recomendações europeias, mas sem, no entanto, se registar um cenário considerado alarmante", lê-se no estudo elaborado pelo Observatório Ibérico de Media Digitais e da Desinformação, Iberifier, do qual a Lusa é parceira.

Contudo, "a preocupação com a desinformação é mais justificada" se for considerada "a situação financeira e a vulnerabilidade do ecossistema mediático português".

O setor português dos 'media' "é frágil em termos económicos e profissionais, e do estatuto do valor jornalístico, notícias como património coletivo, em particular" o económico, os profissionais e as audiências e a sua relação com o conteúdo noticioso.

No que respeita à questão económica, existe uma "crise prolongada", que teve início em 2008-2011, "acentuada pela pandemia" de covid-19, desde 2020.

Neste âmbito, "os dilemas económicos dos 'media' em Portugal" explicam-se com fatores externos, como "a crise económica, pandemia", e internos, "fraca adaptação ao digital ambiente, tentativa mal sucedida de adaptar o analógico para distribuição de modelos que não favorecem a estabilidade dos conteúdos, dependência excessiva dos modelos de financiamento no caso da imprensa", referem os investigadores nas conclusões.

Os 'media' "começaram tarde a lutar por um lugar na economia digital, 'streaming', e tudo o resto parece mais importante do que a económica relação das audiências com o jornalismo".

O estudo aponta que a crise do jornalismo e a perda de credibilidade dos profissionais resulta "tanto do desinvestimento público" como do "desinvestimento do setor em profissionais, uma crescente politização do debate mediático por parte dos comentadores (que não são jornalistas, mas são usados pelos media para criar um clima de permanente disputa)".

Acresce ainda "a visão mais negativa que emerge na opinião pública sobre os profissionais, induzidos quer por uma incipiente onda populista, acusando o sistema jornalístico, ou pela perceção de que os profissionais falham em monitorar cuidadosamente os desenvolvimentos no setor".

Além disso, há outros fatores a serem considerados, nomeadamente a "hiperaceleração do ciclo do noticiário de 24 horas, a saturação do público com conteúdo específico e o aumento de uma economia de atenção que penaliza fortemente aqueles que dependem da produção de conteúdo".

De acordo com o estudo, estas tendências de aceleração "têm impacto negativo sobre uma esfera na produção cujo trabalho é difícil e caro de automatizar e fazer com qualidade em ambientes digitais algorítmicos ou não algorítmicos".

Por outro lado, "os dados muito positivos sobre a confiança nas notícias são contrabalançados por vários sinais de saturação de conteúdos noticiosos, crescente desinteresse de notícias, evitação ativa de notícias e acesso crescente ao conteúdo de notícias indiretamente em ambientes digitais".

O Iberifier é um projeto que visa combater a desinformação e integra 23 centros de investigação e universidades ibéricas, as agências noticiosas portuguesa, Lusa, e espanhola, EFE, e 'fact checkers' como o Polígrafo e Prova dos Factos - Público, de Portugal, e Maldita.es e Efe Verifica, de Espanha.

O consórcio é um dos 14 observatórios multinacionais de meios digitais e desinformação promovido pela Comissão Europeia, tem como coordenador Ramón Salaverría, da Universidade de Navarra, e inclui, entre outras, a Universidade Carlos III, de Santiago de Compostela, de Espanha, e ISCTE -- Instituto Universitário de Lisboa e Universidade de Aveiro, de Portugal.

O estudo está disponível no 'site' https://iberifier.eu/.

Leia Também: Desinteresse pelas notícias "maior entre os mais pobres e menos educados"

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