Após luta, "amor sem fim" de Ângela e Hugo deu frutos. "Sonho tão mágico"

Cabeleira do Porto lutou para mudar a lei e conseguiu engravidar do marido já morto, após anos de uma dura batalha. Bebé Hugo Guilherme nasceu na quarta-feira, dia 16 de agosto de 2023, quatro anos depois de o pai ter morrido.

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© Ângela Ferreira/Instagram

Notícias ao Minuto
17/08/2023 10:40 ‧ 17/08/2023 por Notícias ao Minuto

País

Inseminação pós-morte

Três anos depois de a história de amor de Ângela e Hugo se ter tornado conhecida, o sonho de ambos foi finalmente realizado. A jovem cabeleireira do Porto deu à luz Hugo Guilherme, na manhã de quarta-feira, 16 de agosto, filho do marido, que morreu em 2019, vítima de cancro.

Hugo Guilherme, que nasceu com 3,915 kg e 50,5 centímetros, tornou-se assim na primeira criança concebida em Portugal ao abrigo da lei que regulamenta a inseminação pós-morte. Mas até aqui chegar, Ângela travou uma longa e intensa luta que sensibilizou todo um país e até trespassou fronteiras.

Em 2020, a cabeleireira foi protagonista de uma reportagem da TVI de quatro episódios que emocionou os portugueses. Ângela queria engravidar do marido, que tinha morrido um ano antes, na sequência de um cancro, mas esbarrou numa lei que não a deixava concretizar este desejo.

Contudo, isso não a fez desistir e lutou como uma verdadeira guerreira até ter o filho nos braços. Afinal, a história de amor que tinha tido com Hugo valia tudo isso e muito mais.

Ângela e Hugo apaixonaram-se à primeira vista e viveram um amor intenso e raro, mas ao contrário dos contos de fada, a doença não os deixou ficarem juntos até velhinhos.

Quando ainda estava responsivo, o também cabeleireiro, de 29 anos, disse à mulher que tinha dois sonhos por cumprir. Casar pela igreja e ter um filho com ela.

O primeiro acabou por acontecer, 12 horas antes de morrer, num quarto do Hospital de São João, no Porto, rodeado de amigos e familiares. O segundo ficou por cumprir em vida. No entanto, para garantir que o desejo de ambos se realizava, Hugo criopreservou o seu sémen e deixou consentimento prévio para que este pudesse ser utilizado pela mulher, mesmo se morresse.

Infelizmente, a lei não estava do lado do casal. Em 2020, não era "lícito à mulher ser inseminada com sémen do falecido, ainda que este haja consentido no ato de inseminação".

Surpreendida com este facto, Ângela batalhou com todas as ferramentas que tinha para que as gamelas do material recolhido não fossem destruídas. Criou uma petição online, que foi assinada por mais de 111 mil pessoas, e conseguiu mudar a lei.

Em dezembro de 2021, chegava a primeira boa notícia, depois de quase dois anos de luta, a inseminação 'post-mortem' foi aprovada em Portugal, permitindo a todos que dela dependiam a possibilidade de serem pais.

A segunda boa notícia surgiu em fevereiro deste ano. Mais de três anos depois de ter contado a sua história à TVI e de se ter tornado o rosto pela inseminação 'post-mortem', Ângela Ferreira anunciou que estava grávida do marido que morreu.

"É com uma alegria enorme e com o coração cheio que hoje partilho que agora batem dois corações dentro de mim", escreveu na emocionante publicação que partilhou com os seus seguidores na sua página de Instagram, admitindo que "foram anos de luta" e um "processo longo e doloroso" até aqui chegar.

Seis meses depois da boa nova, Hugo Guilherme veio ao mundo. O menino é não só o concretizar de um "amor sem fim", como o verdadeiro exemplo de que vale a pena lutar pelos nossos sonhos.

Jornalista que contou a história escolhido para padrinho

Poucas horas depois do nascimento de Hugo Guilherme, Ângela deu a notícia na sua página de Instagram, agradecendo ao marido por a ter escolhido para "este sonho tão mágico" e a toda a família e amigos pela ajuda e apoio.

Na mesma publicação, em que partilhou também uma foto do menino, a cabeleireira admitiu que o seu mundo ficou "mais iluminado" com o nascimento do filho e que, para já, vai isolar-se "nesta bolha de amor e aproveitar o máximo que conseguir".

Quem também partilhou fotos no nascimento de Hugo Guilherme no Instagram foi o padrinho, o jornalista da TVI Emanuel Monteiro que contou a história de amor de Ângela e Hugo, pela primeira vez, a Portugal.

Na publicação, Emanuel garante que quarta-feira, dia 16 de agosto, foi um dos dias mais felizes da sua vida. "Hugo Guilherme, mui nobre afilhado, já é cidadão do mundo. Obrigado, Ângela, obrigado a todas as pessoas que acreditam no amor e que permitiram que uma história profundamente triste seja, hoje, um manual de felicidade e inspiração", escreveu o jornalista.

Leia Também: Hugo já nasceu. É a 1.ª criança concebida após morte do pai em Portugal

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