À entrada para uma iniciativa na Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa, Marcelo Rebelo de Sousa foi questionado sobre a posição do PCP na sequência do ataque de sábado, criticada pelo embaixador de Israel em Portugal, Don Shapira, que se escusou a comentar.
"Eu nunca comento as posições partidárias, nem na política interna, nem na política externa. Eu exprimo a posição do Estado português, como o Governo o faz, conduzindo a política externa", respondeu o chefe de Estado.
Depois, Marcelo Rebelo de Sousa referiu que na Assembleia da República "hoje é que pela primeira vez foi discutida a matéria, e houve dissonâncias de pontos de vista, que não são novas, já noutros conflitos aconteceram".
"Mas o fundamental é que eu penso que a maioria dos portugueses não pode deixar de condenar o que se passou", acrescentou.
Segundo o Presidente da República, há sobretudo motivos para se "estar muito preocupado" com os desenvolvimentos nesta "região muito sensível do globo, além do mais próxima da Europa", em que "não se avançava nem um passo significativo há muito tempo para a paz".
"E a possa posição é que deve haver dois Estados diferentes. É a posição das Nações Unidas", realçou.
O movimento islâmico Hamas fez mais de mil mortos e dezenas de reféns civis e militares no ataque de sábado, ao qual Israel respondeu com bombardeamentos da Faixa de Gaza, que provocaram também mais de mil mortos, segundo dados das duas partes.
Quanto ao número de vítimas com nacionalidade portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa disse que houve, "de acordo com umas versões, uma, de acordo com outras versões, duas cidadãs portuguesas mortas", e há "várias que estão desaparecidas, aparentemente, pelo menos quatro".
"É mau que em mais um ponto quente no globo nós estamos a recuar e não a avançar. O que se tem visto nos últimos tempos é que se recua nos caminhos para a paz, não se avança. Isso é muito preocupante para todos, porque dá uma instabilidade enorme a nível mundial, porque tem efeitos económicos e financeiros", lamentou.
O Presidente da República assinalou que esta região "é um cantinho central há muito tempo nas relações entre as grandes potências".
Questionado se esta guerra pode fazer diminuir o apoio internacional à Ucrânia contra a Federação Russa, respondeu: "Isso não penso, porque uma das consequências daquilo que se viveu é acentuar a radicalização também nesse conflito".
"No fundo, no fundo, cada vez que há um conflito mais que surge, e aqui desencadeado pelo Hamas, é mais uma instabilidade. E quando há instabilidade e radicalização de posições, não se negoceia, não há diplomacia, há confronto. E, portanto, acentua o confronto onde quer que ele exista", argumentou.
No domingo, o PCP divulgou um comunicado em que considerou que "os acontecimentos que se estão a desenrolar no quadro do conflito israelo-palestiniano são resultado de décadas de ocupação e desrespeito sistemático por parte de Israel do direito do povo palestiniano a um Estado soberano e independente, da permanente violação de todas as resoluções da ONU e acordos internacionais sobre a questão da Palestina".
Sem mencionar o Hamas nem se referir em concreto ao ataque de sábado, o PCP acrescentou que são "acontecimentos inseparáveis da escalada na política de ocupação, opressão e provocação levada a cabo pelo governo de extrema-direita de Netanyahu e por colonos israelitas, que não só é responsável pelo agravamento da situação, como está a conduzir ao incremento da confrontação no Médio Oriente".
O PCP reafirmou a defesa de um Estado palestiniano "com as fronteiras de 1967 e capital em Jerusalém Oriental, e a efetivação do direito ao retorno dos refugiados, conforme as resoluções pertinentes da ONU".
Na rede social X, ex-Twitter, o embaixador de Israel em Portugal criticou este comunicado, acusando o PCP de assim "justificar o massacre de crianças judias".
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