A gestora do Camões, Instituto da Cooperação e da Lingua sublinhou a importância de Lisboa se posicionar "como o centro desta discussão", passando a ser a organizadora em permanência da "única reunião mundial dedicada exclusivamente a esta modalidade de cooperação", que este ano contou com a presença do presidente do Comité de Ajuda ao Desenvolvimento (CAD) da OCDE, o dinamarquês Carsten Staur, mas também da diretora do Gabinete das Nações Unidas para a Cooperação Sul-Sul (UNOSSC), Dima Al-Khatib, assim como Lorena Larios, responsável para as políticas de cooperação da Secretaria-Geral Ibero-Americana (SEGIB).
A mensagem passada no último dia de debates do VII Encontro Internacional sobre Cooperação Triangular, concluído hoje em Lisboa, foi a de se saber "como é que podemos trazer mais países desenvolvidos para estas parcerias mais horizontais", sublinhou em declarações à Lusa Ana Paula Fernandes.
"Portugal posicionar-se como esse facilitador é bom porque é um investimento no contínuo da nossa imagem de país facilitador, em matéria de cooperação, de programas e projetos, mas também porque estamos mais uma vez a contribuir para um multilateralismo de confiança, é útil nestes tempos tão disruptivos", acrescentou.
A cooperação triangular, sublinhou ainda a presidente do Camões, não é só um "instrumento e uma modalidade cooperação, é um investimento na parceria".
"É um investimento no conhecimento de um país, na forma de trabalhar desse país, nas prioridades de outros países e em aproximar regiões que nem sempre têm acesso às lógicas multilaterais", explicou.
A título de exemplo, Ana Paula Fernandes sublinhou a importância do fundo criado por Portugal e pelo SEGIB em julho, cujo "grande objetivo" é "aproximar a América Latina de África, sendo Portugal o seu facilitador através da linha de financiamento" criada.
"O continente africano tem menos acesso a estas lógicas de financiamento, e, com tudo o que se passa no mundo, há também o risco de parte da ajuda pública ao desenvolvimento (APD) global ser desviada para resolver as grandes crises".
Em consequência desta ameaça, reforçada pelos acontecimentos recentes no Médio Oriente, os projetos de cooperação e desenvolvimento em curso, por exemplo, no continente africano, que são "uma prioridade para Portugal", podem "ser um pouco esquecidos", alertou a gestora.
A discussão sobre o que é "cooperação triangular" e em que se define esta modalidade de cooperação para o desenvolvimento é ainda uma das mais férteis nestes encontros que Lisboa promove desde há sete anos. Muita cooperação triangular não é sequer reportada pelos seus atores enquanto tal.
A cooperação triangular clássica junta a disponibilidade de um doador financiar um país em desenvolvimento, que ajuda outro país em desenvolvimento. Nessa relação, o doador ocupa-se da gestão do projeto e assume o financiamento, mas os conhecimentos técnicos são fornecidos por um dos países em desenvolvimento, que os coloca à disposição do parceiro que precisa da assistência.
"Estas dinâmicas são muito horizontais", sublinhou Ana Paula Fernandes. "E, se são mais horizontais, temos [os atores envolvidos num projeto de cooperação triangular] que ter o mesmo nível de importância. Se calhar uns podem trazer o financiamento, outros trazem o conhecimento, outros beneficiam de tudo, mas todos beneficiamos", concluiu.
"Ainda ontem, numa conversa com o México, aprendi imenso sobre o trabalho deles numa fileira que nós apoiamos em São Tomé na área do coco. Toda a investigação científica que o México está a fazer e que está a partilhar com o Caribe, gostaria de partilhar com África", disse a gestora.
"Porque é que Portugal não pode ser essa plataforma de facilitador deste conhecimento em benefício de São Tomé, em benefício de Portugal e em benefício do México?", sugeriu.
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