A semana passada fechou com um ataque na Ucrânia que poderá colocar em causa as relações diplomáticas entre Lisboa e Moscovo, já que na madrugada de sexta-feira a Rússia conduziu ataques em território ucraniano que afetaram a embaixada portuguesa por lá.
"O Governo português condena de forma veemente os ataques desta madrugada a Kyiv, que causaram danos materiais em diversas missões diplomáticas, incluindo a chancelaria da Embaixada de Portugal", lia-se num comunicado enviado pelo ministério dos Negócios Estrangeiros às redações.
Na mesma nota, a tutela condenava o ataque, dizendo que "é absolutamente inaceitável que qualquer ataque possa visar ou ter impacto em zonas de instalações diplomáticas".
Face à situação, o encarregado de Negócios da Federação Russa foi "chamado ao Ministério dos Negócios Estrangeiros para que seja apresentado um protesto formal junto da Federação Russa" uma vez que o embaixador russo não estava em Lisboa. Já em declarações aos jornalistas, no mesmo dia, o ministro da pasta, Paulo Rangel, explicou que o ataque afetou outros cinco instalações diplomáticas. "É absolutamente inaceitável que se façam alvos nas missões diplomáticas", reiterou.
Em causa estiveram "duas explosões com danos materiais relativamente ligeiros".
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Já ao final da noite de sábado, a embaixada da Rússia em Portugal acusava Kyiv de ser o autor deste ataque, dizendo que os estragos foram causados pelos sistemas de defesa aérea ucranianos, acusando ainda a imprensa de russofobia. "Os repórteres estão a aumentar a russofobia e a distorcer os factos ao escrever sobre este assunto", afirmaram os diplomatas da embaixada russa, de acordo com a agência de notícias russa TASS.
"Os danos no edifício onde se encontra a missão diplomática portuguesa foram causados pelos sistemas de defesa aérea ucranianos, que já provaram a sua 'eficiência' vezes sem conta", salientaram os diplomatas russos ainda.
A embaixada russa reforça ainda na nota emitida que "as forças armadas da Federação Russa estão a atacar exclusivamente alvos militares e infra-estruturas industriais militares" e que, de acordo com o ministério da Defesa russo, "em 20 de dezembro deste ano, o centro de controlo do SBU, o gabinete de design Luch, que se dedica ao desenvolvimento e produção de armas de mísseis, e as posições dos sistemas de defesa aérea Patriot foram atingidos na capital ucraniana"
"Esta foi a resposta ao bombardeamento ucraniano da região de Rostov com mísseis americanos e britânicos ATACMS e Storm Shadow, em 18 de dezembro deste ano", justificam.
As reações
O que disse por cá?
As reações a este ataque não tardaram a chegar, desde responsáveis nacionais, a internacionais.
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, considerou que a situação era uma violação "do direito internacional".
"Portugal não tinha outra solução do que reagir, com firmeza e imediatamente", afirmou ainda considerando que esta situação abre agora um "precedente".
Juntamente com o Governo, a Presidência decidiu que devia ser feita uma diligência. Já o primeiro-ministro, Luís Montenegro, apontou que "Portugal exige o estrito respeito pelo direito internacional" e descreveu o ataque como "horrível" e agradeceu a "solidariedade europeia". Numa publicação partilhada no X (antigo Twitter), agradeceu ainda toda a solidariedade demonstrada.
Ainda por cá, também os partidos consideraram pediram uma resposta, inclusive da União Europeia (UE).
"É importante que haja uma reação assertiva a este tipo de agressões. (...) Este é mais um dado que leva quer Portugal, quer a União Europeia a reforçar o apoio à Ucrânia e a discutir sanções ao nível diplomático com a Rússia", sublinhou o líder da Iniciativa Liberal, Rui Rocha.
Por sua vez, a porta-voz do PAN, Inês de Sousa Real, expressou também a solidariedade do partido "não só a todos os diplomatas, mas também a todos os cidadãos da Ucrânia e aos deslocados no nosso país". Sousa Real sublinhou a necessidade de uma resposta europeia para o restabelecimento da paz e apelou a que a União Europeia seja capaz de reforçar a sua autonomia energética e económica.
O secretário-geral do PCP, Paulo Raimundo, considerou que o ataque demonstra que é preciso acabar com a guerra porque quanto mais tempo durar "mais coisas destas vão acontecer".
Já a embaixada da Ucrânia em Portugal também condenou o ataque, apontando: "A Rússia demonstra mais uma vez o seu desprezo bárbaro pelo direito internacional, atacando missões diplomáticas e infraestruturas civis. Estes ataques são mais uma prova da necessidade de ações conjuntas por parte da comunidade internacional para responsabilizar o agressor e alcançar uma paz justa. A Ucrânia expressa a sua gratidão a Portugal pelo apoio e solidariedade na luta contra a agressão".
E lá fora?
A União Europeia também não perdeu tempo em reagir à situação, com o presidente do Conselho Europeu, antónio Costa, a escrever na rede social X: "Os civis continuam a ser atacados em Kyiv. Desta vez, várias missões diplomáticas, incluindo a embaixada de um Estado-Membro da UE, Portugal, foram também vítimas de ataques russos. Isto é inaceitável", escreveu o ex-primeiro-ministro português na rede social X.
"A minha solidariedade para com todas as pessoas afetadas, incluindo o pessoal diplomático", acrescentou.
A par de Costa, também a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, sublinhou a sua solidariedade com Portugal, sublinhando: "Mais um ataque horrendo da Rússia contra Kyiv. Desta vez contra um edifício que alberga a embaixada de Portugal e outros serviços diplomáticos. O desrespeito de [Vladimir] Putin [presidente russo] pela lei internacional atingiu um novo patamar".
Também a alta-representante da UE para os Negócios Estrangeiros e Política de Segurança, Kaja Kallas, condenou o "ataque bárbaro". "Nenhuma representação diplomática ser um alvo ou ser atingida. Isto é mais um ataque bárbaro da Rússia contra alvos civis que indica que não há qualquer vontade de paz", escreveu Kaja Kallas na rede social X.
Por sua vez, a porta-voz da Organização do Tratado do Atlântico Norte, Farah Dakhlallah, recorreu às redes sociais falar do assunto, frisando que a Aliança exorta "a Rússia a cessar imediatamente todos os ataques contra civis e infraestruturas civis ucranianas e a pôr termo à sua guerra ilegal contra a Ucrânia".
Poucas horas após o ataque, o ministério dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia dava conta de que nenhum funcionário foi ferido e condenava também o ataque.
"Em qualquer parte do mundo, isto representa uma violação de todas as linhas vermelhas possíveis e das regras internacionais - são ataques a missões diplomáticas", declarou o porta-voz da tutela, Heorhii Tykhyi.
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