O violoncelista Varoujan Bartikian está em Portugal há 35 anos e é um dos 63 músicos que fazem parte de uma orquestra reunida para um concerto único pela paz no dia 07 de dezembro, para celebrar também os 75 anos da Declaração Universal dos Direitos de Homem.
"A música é o único sítio onde não há conflitos, temos de viver em harmonia. É uma língua geral", afirmou à Lusa Varoujan Bartikian.
Além dos músicos, o espetáculo conta com um coro de quatro dezenas de elementos e quatro solistas, sob a direção do maestro Pedro Amaral, que teve a ideia do concerto e fez a proposta ao antigo Alto Comissariado para as Migrações, substituído pela atual Agência para a Integração Migrações e Asilo.
"A música e arte em geral não podem mudar o mundo, mas podem ajudar com a força do seu exemplo" e nesta "orquestra temos músicos de todo lado, de mãos dadas, tocando em prol do bem comum, provindos de nacionalidade desavindas", afirmou à Lusa Pedro Amaral, à margem do primeiro ensaio para o espetáculo.
São "grandes músicos e eu tenho muita sorte. Tenho uma orquestra formada por músicos de muitas nacionalidades diferentes, também músicos de faixa etária diferentes", num "elo intergeracional que é muito importante", disse o maestro.
A Declaração Universal dos Direitos Humanos é "fundamental hoje" e, "quando o mundo arde, damos uma prova de que a música pode unir, a arte em geral pode unir aquilo que a política, as desavenças, os conflitos - às vezes históricos, às vezes com tantos anos -- desunem", justificou o maestro, considerando que a população deve estar mais vigilante e mais exigente para que a paz triunfe.
"Celebrar os direitos humanos é com certeza algo que devemos fazer quotidianamente, mas em particular nestes tempos de tanta guerra", afirmou.
A viver em Portugal desde os oito anos vinda da Ucrânia, Lyza Valdman fez a formação em Portugal e é hoje professora e violonista freelancer.
A seu lado, no concerto está uma música russa e no local não entra política, só música. Pela paz.
"Aqui não há barreiras, só liberdade" e "conseguimos conviver uns com os outros, conseguimos tocar, conseguimos expressar sem usar palavras e acho que isso é tudo que precisamos neste momento", afirmou Lyza Valdman.
Este é um concerto que "acaba por abranger muita gente, engloba toda a gente" e procura comunicar "de uma forma muito mais íntima, tocando no coração das pessoas", acrescentou a jovem.
Varoujan Bartikian concorda e considera que estes momentos oásis de paz e tranquilidade.
"Temos o privilégio de tocar esta musica maravilhosa quando noutros mundos está horrível, como a guerra entre a Rússia e a Ucrânia ou entre Israel e a Palestina", explicou o músico arménio.
Na sua opinião, "arte e cultura podem fazer uma revolução maior que os políticos", pelo que o concerto no auditório da Gulbenkian será mais "uma prova que todos os povos, todas as nações são iguais e podem estar reunidas para tocar música".
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