Marcelo Rebelo de Sousa falava na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, na sessão de apresentação de uma edição revista e ampliada do livro "Portugal Amordaçado -- Depoimento sobre os anos do fascismo", de Mário Soares, no dia em que o antigo Presidente da República completaria 99 anos de idade.
Numa intervenção de vinte minutos, o Presidente da República contou que Jorge Sampaio se referia a Mário Soares como "o colosso da democracia portuguesa", e subscreveu essa definição.
"Sem embargo de ter havido personalidades excecionais nestes 50 anos de democracia, colosso houve um", afirmou Marcelo Rebelo de Sousa, repetindo: "Colosso houve um".
Segundo o chefe de Estado, o livro "Portugal Amordaçado", editado em França em 1972, quando Mário Soares se encontrava no exílio, constituiu "um momento essencial, não percebido pela maior parte, para a sua sobrevivência, para a sua afirmação e para a sua aposta de futuro", com o qual "apostou e ganhou".
"Ainda bem que ganhou, porque ao ganhar Mário Soares ganhou Portugal", acrescentou Marcelo Rebelo de Sousa.
O Presidente da Republica foi o último a discursar nesta sessão, depois do primeiro-ministro e secretário-geral do PS, António Costa, pouco antes de formalizar a demissão do Governo.
Recuando ao período da ditadura, Marcelo Rebelo de Sousa considerou que o antigo presidente do Conselho, Marcello Caetano, "nunca percebeu Mário Soares", não foi "capaz de entender como é que esse protagonista, que justificava a deportação para São Tomé, poderia arrancar um espaço próprio, um espaço vital que iria marcar e liderar a democracia portuguesa", assim como também "nunca percebeu o movimento dos capitães depois".
A versão revista e ampliada do "Portugal Amordaçado" hoje apresentada é o primeiro volume da coleção "Obras de Mário Soares", editada pela Imprensa Nacional e coordenada por José Manuel dos Santos.
Sobre o "Portugal Amordaçado", o chefe de Estado declarou: "Este livro, no ano em que sai, representa, primeiro, Mário Soares a dizer: eu tenho uma voz própria, eu crio um espaço próprio, eu vou ter uma força própria, internacional. É um livro não apenas para Portugal, mas para o mundo -- coloca-o logo como o político [português] mais conhecido no mundo na área democrática".
"Ele definiu a partir deste livro um ideário, um roteiro para a democracia portuguesa", prosseguiu, apontando como eixos desse ideário uma democracia europeia, de vocação universal, aberta, tolerante.
Marcelo Rebelo de Sousa recordou Mário Soares como "o primeiro primeiro-ministro de raiz popular eleitoral após a democracia" e "o primeiro Presidente da República civil depois da democracia".
Mário Soares nasceu em 07 de dezembro de 1924, em Lisboa, e morreu em 07 de janeiro de 2017, aos 92 anos, em Lisboa.
Advogado, combateu a ditadura do Estado Novo, foi fundador e primeiro líder do PS. Regressado do exílio em França, após o 25 de Abril de 1974, foi ministro dos Negócios Estrangeiros, primeiro-ministro e Presidente da República durante dois mandatos, entre 1986 e 1996.
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