Contrariando as declarações proferidas na segunda-feira pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, o Hospital Dona Estefânia assegurou não ter mencionado que o Hospital de Santa Maria, em Lisboa, seria a unidade indicada para o tratamento das gémeas luso-brasileiras com atrofia muscular espinhal que, em 2019, receberam Zolgensma, um medicamento que custa mais de dois milhões de euros, no Serviço Nacional de Saúde (SNS).
A notícia foi avançada esta sexta-feira pela TVI/CNN Portugal, que recordou que, no esclarecimento prestado no início da semana sobre a atuação da Presidência da República a propósito do ofício, Marcelo Rebelo de Sousa disse que teria sido o Hospital Dona Estefânia a referir que o Hospital de Santa Maria seria a unidade indicada para a realização do procedimento.
"[A família] já tinha contactado o Hospital Dona Estefânia, que tinha dito que seria Santa Maria, de facto, o hospital adequado para se apurar se, sim ou não, era possível esse tratamento”, disse o chefe de Estado, ao dar conta da comunicação que manteve com o filho, Nuno Rebelo de Sousa, sobre a situação.
Mas, segundo o Centro Hospitalar de Lisboa Central, “em nenhum dos documentos a propósito deste assunto há referência ao Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Norte (Hospital de Santa Maria)”, relatou o canal televisivo.
“Não, nunca dissemos isso. Inferiram a partir de alguma coisa, mas seguramente eu não transmiti essa ideia”, corroborou o responsável da neuropediatria daquela unidade hospitalar, José Pedro Vieira, que foi quem trocou e-mails com a família.
De acordo com a estação, os e-mails foram entregues esta semana à Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS), que está a investigar o caso.
Também esta sexta-feira, o jornal Público avançou que as meninas tiveram uma consulta marcada no Hospital Lusíadas Lisboa, com a mesma médica que as atendeu no Hospital de Santa Maria. Tendo em conta que a consulta no privado estava agendada para o dia 6 de dezembro de 2019, enquanto no público seria um dia antes, a família optou pelo SNS, de acordo com o advogado.
"É um absurdo falar-se de cunha porque, à partida, as meninas já seriam reencaminhadas para o SNS", considerou Wilson Bicalho, em declarações ao mesmo meio de comunicação.
De notar que, segundo confirmou a Procuradoria-Geral da República (PGR) ao Notícias ao Minuto, "o processo encontra-se em investigação no Departamento Central de Investigação e Ação Penal Regional de Lisboa e, por ora, não corre contra pessoa determinada". O caso está também a ser averiguado pela IGAS, além de ser objeto de uma auditoria interna no Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Norte, do qual faz parte o Hospital de Santa Maria.
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