"Acho que a Europa lhe deve muito e acho que Portugal lhe deve muito também", declarou José Manuel Durão Barroso, falando aos jornalistas portugueses que acompanham em Paris a homenagem de França a Jacques Delors, que morreu em 27 de dezembro, aos 98 anos.
Nas declarações prestadas no edifício do Hôtel des Invalides, local escolhido para a cerimónia, o antigo presidente português da Comissão Europeia recordou as suas "memórias muito fortes" com Jacques Delors.
"Trabalhei com ele na altura como ministro dos Negócios Estrangeiros e depois, quando era presidente da Comissão Europeia, tive várias vezes ocasião de me encontrar também com o presidente Delors. Era um homem excecional, um grande europeu, alguém que combinava uma grande ambição e sonho para a Europa, ao mesmo tempo com um método muito prático e pragmático, muito realista", elencou.
De acordo com Durão Barroso, Delors "era visionário, mas era pragmático e conseguia combinar a visão e o sonho europeu com passos concretos e realistas".
"Por exemplo, fez muito no mercado interno, mas não avançou na altura -- porque também não podia -- na questão da defesa europeia ou da política externa europeia. Eu acho que é exatamente isso que falta hoje", acrescentou.
E defendeu: "O que falta hoje na Europa é uma projeção geopolítica mais forte".
Durão Barroso adiantou que a UE está a "deixar a adolescência geopolítica" uma vez que, "por causa da situação externa cada vez mais difícil, os europeus estão a acordar para a necessidade de se defenderem, de afirmarem sem complexos os seus interesses".
"Mas a verdade é que há um longo caminho a percorrer", concluiu.
Vários líderes europeus, incluindo o Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, participam hoje em Paris na homenagem da França ao político e antigo presidente da Comissão Europeia Jacques Delors.
A cerimónia é presidida pelo chefe de Estado francês, Emmanuel Macron.
O Estado francês pretende homenagear um "arquiteto da Europa unida" sem o qual a França seria "menos dona do seu destino", segundo a Presidência francesa.
A França convidou todos os chefes de Estado e de Governo da UE, bem como os presidentes das instituições comunitárias, atuais ou em exercício enquanto o social-democrata Jacques Delors esteve em Bruxelas de 1985 a 1995.
Figura da construção do projeto europeu e considerado o "pai do euro", Jacques Delors foi presidente da Comissão Europeia entre 1985 e 1995 (durante três mandatos).
No seio da UE, ficou conhecido por ter aprovado o Ato Único Europeu, em 1986, que levou à criação do Mercado Único, o primeiro do género ao nível mundial, em 1993.
Foi protagonista na transformação da Comunidade Europeia em União Europeia, o que permitiu uma transição para a moeda única (o euro) e para uma maior cooperação ao nível da defesa.
Nome incontornável da esquerda francesa, foi ainda ministro francês das Finanças e eurodeputado.
Jacques Delors frustrou as esperanças desta ala partidária ao recusar apresentar-se às eleições presidenciais de 1995 em França. Na altura, era favorito nas sondagens.
Leia Também: PR destaca papel "essencial" de Delors para a UE e adesão de Portugal