Américo Aguiar, bispo de Setúbal, afirmou, no sábado, que ficou "surpreendido" com a polémica em torno do antigo primeiro-ministro Pedro Passos Coelho e a apresentação do livro 'Identidade e Família', referindo ainda que não vê qualquer "problema" na situação.
Numa entrevista na CNN Portugal, o também cardeal começou por dizer que "ainda" não leu o livro. "A única coisa que eu conheço é a capa e o ruído todo gerado em volta da apresentação do livro da responsabilidade do doutor Pedro Passos Coelho", referiu.
"Acho que não há problema absolutamente nenhum que um conjunto de cidadãos compilem um conjunto de textos sobre uma temática – da família –, aquilo que possa ser no entendimento de cada um deles o seu posicionamento em relação ao assunto, que façam um livro, que o apresentem, que o publiquem. Não vejo qual é o problema", destacou.
Américo Aguiar destaca que, pelo contrário, acha até "interessante". "Alias, até acho interessante que outras pessoas, outras personalidades, de outro contexto e sensibilidade, até possam oferecer aos leitores outras perspectivas de olhar para o mesmo assunto", admitiu.
"Confesso que não sei se é do contexto em que estamos político-partidário, de arranque da nova legislatura, mas confesso que fiquei surpreendido por tudo aquilo que aconteceu à volta da apresentação de um livro. Não é costume, mas é muito positivo, os livros merecem toda a atenção", completou.
Para o bispo de Setúbal, "temos de ter a elevação de nos ouvirmos, de nos conhecermos e de nos respeitarmos". "Isso é que é primordial no tempo em que vivemos", defendeu.
Recorde-se que Pedro Passos Coelho foi o responsável pela apresentação do livro 'Identidade e Família -- Entre a Consciência da Tradição e As Exigências da Modernidade' - que contou com a presença dos líderes do Chega, André Ventura, e do CDS-PP, Nuno Melo.
A obra, que pretende alertar para a "destruição da família" tradicional e a "ideologia de género", reúne textos de personalidades como Jaime Nogueira Pinto, Manuel Clemente, Manuela Ramalho Eanes, João César das Neves, Isabel Galriça Neto, Guilherme D'Oliveira Martins ou José Ribeiro e Castro, entre outros.
À entrada para a apresentação, Passos Coelho foi questionado sobre críticas por se ter associado à visão de família de alguns dos autores do livro, lamentando que no espaço público existam "cada vez mais rótulos e caricaturas" apenas com a intenção de "agredir e desqualificar".
"Portugal, apesar de algum atraso nesta abordagem, também vem conhecendo este vício que diminui o espaço público e procura reconduzir certas discussões que interessam a toda a sociedade a uma espécie de gente ultramontana, ultraconservadora e outras coisas que normalmente se seguem", disse, acrescentando que no espaço político estes rótulos rapidamente descambam para outros.
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